O
campo ao longo do processo de democratização e redemocratização do país sempre
foi visto pelas instituições governamentais, como uma extensão periférica do
espaço urbano, isso contribuiu para a elaboração de políticas educacionais com
pouca consistência e excludentes em sua maioria, tendo como base num paradigma
urbano-rural. Essa concepção preconceituosa foi significativa na consolidação
de um processo histórico brutal de negação do acesso aos direitos
constitucionais dessa parcela da população, a bens econômicos, direitos
trabalhistas e, em especial, o acesso a uma educação contextualizada que não
fosse fruto do ajustamento e adaptação pura e simples, de políticas
padronizadas para uma realidade especifica.

Uma
análise histórica mostra que as escolas do campo sempre foram pensadas e
planejadas como um espaço isolado do processo de produção cultural, social e
econômico, sendo concebido apenas como uma instituição em que o professor
ministra sua aula pura e simples, com a finalidade de ofertar um conteúdo
programático mínimo, para instrumentalizar o filho do camponês e prepará-lo
para uma vida na cidade. Nessa linha de entendimento o campo e suas escolas
sempre foram visto como um espaço pejorativo e secundário de caráter provisório
e transitório rumo ao desenvolvimento “urbanocentrico”, termo utilizado para
definir a visão didático-pedagógica que utiliza o processo de ajustamento e
adaptação na transferência de currículos, calendários e conhecimentos
universais para o campo, sem nenhuma conexão com sua realidade.
Para
inverter essa lógica é preciso redimensionar o conceito de campo e da educação
ofertada para aqueles que nele vivem, indo além do conceito de meio rural
apenas com espaço de produções agrícolas, e sim um espaço, que tem sua própria
lógica na produção de suas condições de existências. Pois segundo o parecer
36/2001 SECAD/MEC (2007:13), o campo hoje, ”tem um significado que incorpora os
espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas o ultrapassa
ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas.
O campo, nesse sentido, mais do que um perímetro não urbano, é um campo de
possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção
das condições da existência social e com as realizações da sociedade humana”.
Concebendo
o meio rural como espaço dinâmico que perpassa a visão unilateral dos setores
conservadores, as escolas que ofertam a educação do campo, no campo e para o
campo não podem ser consideradas como um simples local de dar aula, aonde
prepara aqueles que vivem em bolsões a margem dos centros urbanos para viverem
nas cidades. Deve-se ao contrario, ser compreendida como aquela que esta
inserida no espaço geográfico identificadas com o campo, mesmo que suas sedes
estejam em área consideradas urbanas, mas que atende a população que tem sua
produção, econômica, social e cultural, predominantemente vinculada às
comunidades que integram essa realidade. Pois segundo (Menezes Neto, Chaves
2003:25, 2008), esta educação não pode ser dirigida para a reprodução de
capital, mas deve ser uma educação sobre a qual os trabalhadores e seus filhos
possam construir novas relações sociais, um novo modelo de sociedade, calcado
no trabalho, na justiça social, na distribuição de renda, na reforma agrária. Pois como disse (Karl Max) as circunstâncias fazem o ser humano, na mesma
medida em que este faz as circunstancias.
Por
fim, considerando a realidade da educação no país e, em especial o abandono
histórico das comunidades rurais, o novo PNE precisa repensar a alocação de
recurso tento no que se refere ao montante, quanto na forma de gestão e a
qualidade na aplicação final desses recursos. Não se pode deixar de observar
que já em 2001 os movimentos sociais ligados a vários setores defendiam um
valor de 7% do PIB para o PNE da década passada e que foi vetado ex-pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso. A definição de valores no PNE 2011 não significa
necessariamente um avanço, pois, o valor é considerado insuficiente para
especialista, inclusive para o Presidente da Câmara Básica de Educação, que vai
propor o índice de 10% do Produto Interno Bruto. O plano tem que pensar em
instrumentos que garanta uma gestão mais democrática, que não centralize as
decisões na figura do gestor municipal e do responsável pelas finanças, mas que
possibilite mais autonomia ao gestor da pasta de educação e aos Conselhos
Municipais de Educação, do FUDEB e do PNAE. Pois em muitas situações o 25%
destinados à educação são utilizados para custear diversos tipos de despesas.
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