Imagem: viomundo.com.br |
Infelizmente, os editores do Estadão decidiram não
concedeu ao Senador o mesmo espaço que o jornal concedeu ao José Serra. Uma decisão antidemocrática do jornal e, por isso, publico aqui
nesse espaço um texto de henrique fontana, em resposta ao texto de José vampiro Serra, para que todos tenham acesso.
José Serra cultiva com frequência uma forma peculiar de debater ideias em nosso sistema político: do seu lado estão os valores da “verdadeira democracia”; do outro, os golpistas que querem eliminar os adversários. Acredito que a linguagem maniqueísta não é adequada para debater ideias em um ambiente democrático, aliás, não foi desta forma desrespeitosa e arrogante que fui recebido nas inúmeras reuniões que fizemos com a bancada do PSDB na Câmara dos Deputados, sempre muito civilizadas.
José Serra cultiva com frequência uma forma peculiar de debater ideias em nosso sistema político: do seu lado estão os valores da “verdadeira democracia”; do outro, os golpistas que querem eliminar os adversários. Acredito que a linguagem maniqueísta não é adequada para debater ideias em um ambiente democrático, aliás, não foi desta forma desrespeitosa e arrogante que fui recebido nas inúmeras reuniões que fizemos com a bancada do PSDB na Câmara dos Deputados, sempre muito civilizadas.
O debate político ganharia muito se todos aqueles que estão realmente
interessados em aperfeiçoar nosso sistema político se debruçassem sobre
um fato inegável da democracia brasileira: o avassalador crescimento do
peso do poder econômico nas campanhas eleitorais. Em 2002, os gastos
declarados por partidos e candidatos nas campanhas para Deputado Federal
alcançaram R$ 189,6 milhões; em 2010, esse valor chegou ao montante de
R$ 908,2 milhões, um crescimento de 479% em oito anos. Com maior
intensidade, os gastos declarados nas campanhas presidenciais passaram
de R$ 94 milhões, em 2002, para R$ 590 milhões, em 2010, um crescimento
de 628% em oito anos.
Como economista, Serra deveria esclarecer a população de que hoje ela
já paga por cada centavo das campanhas bilionárias que meu projeto visa
baratear. Ou alguém pensa que quando uma empreiteira coloca 50 milhões
na eleição ela não embute esse valor no preço das obras que são pagas
com os recursos do contribuinte? Seria preciso ser muito ingênuo para
acreditar que esses generosos doadores não exigirão dos candidatos que
criteriosamente escolheram financiar algum tipo de contrapartida para o
apoio conferido nas campanhas eleitorais, na forma de relações
privilegiadas, podendo chegar a contratos superfaturados ou desvios de
todo tipo nas relações com o Estado. O custo das campanhas eleitorais é
como um imposto: quem paga é sempre o cidadão.
Nesse sistema, apenas os candidatos que contarem com generoso aporte
dos recursos dos financiadores privados – as 72 grandes empresas que
contribuíram com um bilhão de reais nas eleições de 2010 – terão chances
efetivas de vencer uma eleição. Assim, muitas vocações de autênticos
líderes e representantes populares não poderão aflorar, pois terão suas
carreiras políticas ceifadas na origem, pela ausência de recursos para
financiarem suas campanhas e defenderem os legítimos interesses da
população que mais necessita da ação estatal na forma de bens públicos. É
essa a democracia que convém ao nosso país?
Os dados das últimas eleições nacionais são muito claros nesse
sentido: dos 513 deputados federais eleitos em 2010, 369 foram os que
mais gastaram nos seus estados, o que representa 71,93% da Câmara. Foi
para enfrentar essa realidade que, nas últimas legislaturas, diversos
partidos, em sintonia com as posições defendidas por expressivos setores
da sociedade civil (OAB, CNBB, Movimento de Combate à Corrupção
Eleitoral e outras organizações sociais) se debruçaram em torno da
elaboração de diversas propostas de financiamento público das campanhas
eleitorais. Será que essas entidades também podem ser tachadas de
golpistas?
Esse debate, que não é propriedade de nenhum partido, não se
encerrará em função da decisão momentânea dos que optaram por continuar
com as distorções do modelo atual. Os problemas de nosso modelo de
financiamento aparecerão com força revigorada nas eleições de 2014, se
nada for mudado. Se, em vez de desqualificar seus opositores, o autor
estudasse a fundo a proposta reconheceria que no sistema atual os
maiores partidos são os que mais arrecadam dos financiadores privados, o
que gera grande desigualdade entre os concorrentes.
Não consegui encontrar ao longo do texto de José Serra os argumentos
para defender o sistema de financiamento privado que temos hoje no
Brasil. Faltaram as frases para explicar por que seria positivo que
empreiteiras, bancos e outras grandes empresas possam usar seu poder
econômico para definir livremente quem querem financiar. Ou a
sustentação de que esses financiamentos não têm trazido problema algum
para a democracia brasileira, isto é, nenhum caso de corrupção que o
país vivenciou nas últimas décadas teria qualquer relação com o
financiamento privado das campanhas eleitorais.
Em seu artigo, Serra repete uma velha fórmula de fazer política em
nosso país: critica fortemente a proposta de seu adversário para
sepultá-la o mais rápido possível, ainda que tenha pouco para contribuir
com a melhoria do sistema atual. Somente no último parágrafo, depois de
defender ao longo do texto a continuidade do financiamento da
democracia brasileira por empreiteiras, bancos e outras grandes
empresas, ele apresenta sua única proposta de reforma política: o voto
distrital.
Em nossa opinião, além da desproporcionalidade entre os votos e as
cadeiras conquistadas pelos partidos e da “paroquialização” da disputa
política, o sistema distrital produzirá entre nós aguda concentração de
poder em torno de duas ou três grandes agremiações, como já ocorre no
Reino Unido e nos Estados Unidos, em função do voto útil, típico das
disputas majoritárias. Talvez o modelo de democracia ideal defendido por
Serra seja um sistema com três grandes partidos (o PT, o PMDB e o
PSDB), o que considero inviável no Brasil. Nosso partido soube crescer e
elegeu por três vezes o Presidente da República no contexto das regras
vigentes, mas queremos mudá-las porque acreditamos que estas não são as
mais justas e democráticas.
Em função dos agudos problemas do sistema vigente, o debate sobre o
financiamento das campanhas veio para ficar em nosso país. Alguns atores
defendem a proibição das doações de Pessoas Jurídicas, o que já seria
um avanço, outros se mobilizam para estabelecer um teto para os gastos
de cada campanha, previsto pela legislação eleitoral, mas nunca
regulamentado pelo Congresso. Nas inúmeras reuniões com vários partidos,
percebo a preocupação crescente com a influência desmesurada do poder
econômico no campo político. Ao contrário de José Serra, que prefere o status quo, tenho certeza de que encontraremos o modelo mais adequado para financiar as campanhas eleitorais no país.
Fonte: http://www.viomundo.com.br/politica/henrique-fontana-estadao-se-nega-a-publicar-artigo-em-que-rebato-jose-serra.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sejam críticos, mas construtivos