Votação do Marco Civil da
Internet tranca pauta da Câmara dos Deputados e deve ser votado esta
semana. Ativistas de direitos humanos organizam ações em Brasília por
pluralidade e diversidade na rede.
Se olharmos para a história, vamos
perceber que a forma como se estruturam os meios de comunicação é
decisiva para a organização da sociedade. Com a invenção da imprensa, a
bíblia passou a ser divulgada massivamente e logo veio a reforma
protestante. Os reis trataram rapidamente de estabelecer o monopólio do
direito de imprimir e a conquista da liberdade de imprensa (liberdade de
todos imprimirem) foi fundamental para uma sociedade que não mais a
aceitava governantes com poderes absolutos.
Com a invenção do rádio,
imaginou-se que a democracia se radicalizaria em um ambiente onde todos
poderiam receber e transmitir informações por esse veículo de longo
alcance. Em vez disso, o mercado definiu que o direito receber
(consumir) informações seria de todos, ficando restrito a poucas
corporações o direito de transmitir as informações a serem consumidas
pelo conjunto da sociedade. Essa organização dos meios de comunicação
definitivamente ajudou a consolidar a sociedade que conhecemos hoje,
onde os direitos civis existem na proporção em que se tem poder
econômico para exercê-los.
Com o surgimento da internet, a
relação acima descrita é colocada em cheque. Os consumidores de
informação têm a possibilidade de produzir e transmitir conteúdos para o
conjunto da sociedade, eliminando as corporações de mídia como
intermediários. Por outro lado, esse novo meio de comunicação,
totalmente estruturado na transmissão de protocolos em rede, também cria
uma possibilidade nunca antes vista de controle e manejo das
informações que circulam na sociedade. As regras deste novo jogo ainda
estão sendo escritas em todo o mundo.
No Brasil, o jogo pode ter seu
dia decisivo nesta terça feira, 29 de outubro de 2013. Neste dia, o
Congresso Nacional amanhece com a pauta trancada, podendo votar apenas o
projeto do Marco Civil da Internet, que está em urgência
constitucional.
O dia D para a internet
brasileira chega de forma silenciosa e o que for aprovado pode levar a
caminhos radicalmente opostos. Podemos apontar para a construção de uma
sociedade com diversidade e pluralidade de vozes que efetivamente nunca
esteve em pé de igualdade nas democracias constituídas até então, Mas
também podemos desenhar a sociedade da informação como uma sociedade do
controle, onde o vigilantismo e o autoritarismo de poucos sobre muitos
se consolidem como regra geral.
O que está em jogo?
PRIVACIDADE:
A noção de privacidade ganha corpo nas sociedades para impedir
que o rei (Estado) não entre na casa de quem ele quer na hora em que
desejar. Hoje, não apenas o Estado mas corporações multinacionais entram
em nossas casas e retiram as informações que desejam através da rede
mundial de computadores. O Marco Civil da Internet impede que VIVO,
CLARO, TIM e OI tenham o direito de guardar e usar todos os dados que
gerarmos ao nos conectarmos à rede. Elas, por sua vez, demonstram
repulsa ao texto, que não coloca os seus interesses mercantis privados
acima da privacidade de cada cidadão.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO:
As Organizações Globo hoje admitem, abertamente, o apoio à ditadura
em 1964, que feriu de morte a liberdade de imprensa à época. Hoje, a
Globo é uma das principais corporações responsáveis pela censura
conteúdos na internet brasileira. No dia 29, a Globo quer que o seu
poder de censura vire lei e tenta impor ao relator do projeto o
parágrafo segundo do artigo 15 do texto a ser votado. Em nome do direito
autoral, a Globo retira do ar conteúdos como o vídeo
que debate a representação de negros e negras pela mídia brasileira,
cujas imagens são permitidas pela própria Lei de Direitos Autorais, pois
utiliza pequenos trechos de obras para produzir debate em torno do
tema. É justamente a corporação de mídia que se autodenomina a
defensora da liberdade de expressão que censura conteúdos com a falsa
premissa de defesa de direitos autorais, motivada pelos seus interesses
econômicos.
NEUTRALIDADE DE REDE:
As multinacionais que controlam a infraestrutura de conexão querem
transformar a internet em uma espécie de TV a cabo mundial, onde quem
pode pagar navega por toda a rede, e quem tem menor poder aquisitivo
fica limitado a alguns provedores escolhidos pelas multinacionais em
contratos de vantagens econômicas com esses provedores escolhidos. As
empresas VIVO, CLARO, TIM e OI querem consolidar um modelo em que possam
colocar pedágios dentro da rede. Para isso, precisam garantir que a
neutralidade da rede conste no Marco Civil da Internet como um termo
vago. Assim, quem controla os cabos não precisa ser neutro em relação
aos conteúdos que por neles trafeguem.
O QUE FAZER:
Ativistas de direitos humanos organizam ações no Congresso Nacional
com o objetivo de deixar claro para os parlamentares (que na maioria
das vezes não dominam o tema) que está em jogo algo decisivo para o
futuro da democracia e, por isso, não deve ser pautado pelos interesses
privados de poucas corporações. Além da mobilização em Brasília, também
há uma campanha na internet que pede a alteração da imagem de capa no
Facebook para a imagem da campanha, informando a lista de contatos
dos parlamentares para que os eleitores cobrem seus deputados uma
postura de não negociação dos direitos fundamentais como a liberdade de
expressão, privacidade e neutralidade de rede. Nessa semana, saberemos
quem venceu a batalha decisiva, se foram as corporações ou a democracia.
http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/o-dia-d-da-internet-3543.html
*Pedro Ekman é coordenador do Intervozes e compõe a executiva do FNDC (Fórum Nacional pela Democratizaç
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