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Drawlas Ribeiro : Professor da Educação Básica e autor do blog |
Momento histórico na luta dos negros pela sua autoafirmação, a Lei
de Cotas nas Universidades Públicas, sancionada pela Presidenta Dilma, tem sido
motivo de comentários no mínimo estranhos, proferidos pela elite preconceituosa
e uma mídia conservadora, que tem na
Revista Veja da Editora Abril/Cevita, sua principal porta voz. Nesta semana a
repórter Julia Carvalho em uma análise fraca do ponto de vista pedagógico e
inconsistente historicamente, fez uma analise da trajetória dos negros no país,
para afirmar que a Lei de Cotas. Mas de maneira conveniente, ela não considerou
todo processo histórico de negação dos direitos aos negros e aos demais grupos
de minorias, fundamentou sua tese a partir de um período factual, tentando
assim, desqualificar esse importante instrumento de inclusão social.
A partir dessa visão elitista a VEJA
tenta explorar a tese da meritocracia, que consiste na valorização do mérito,
mas fica difícil falar em quando uma grande parcela da nossa sociedade teve
mais de V séculos de negação de seus direitos. Portanto, com eles não tem o
mínimo interesse em fazer esse exercício de reflexão histórica, vamos procurar
resgatar esse trajeto de negação e agressão aos afrodescendentes, para que o
PIG (Partido da Imprensa Golpista) não consiga desqualificar o PROJETO DO
PARTIDO DOS TRABALHADORES. Pois,
infelizmente o negro ainda é objeto de olhar enviesado, sobretudo em data
relativa às comemorações de suas lutas e suas conquistas, pois são chamados em
atos e manifestações públicas simplesmente para a utilização de sua
corporeidade, pela sua forma exuberante de se posicionar a favor ou contra
determinados temas, e não pelas suas aquisições intelectuais, após uma longa
vida de produtividade e exercício de uma cidadania conquistada e construída a
ferro, sangue e muita luta.
A poesia de José Bonifácio expressa muito bem o
inicio do processo histórico do negro em busca sua autoafirmação, quando ela
extravasa toda sentimentalidade do negro dizendo (...) Escravo – não, não morri
nos ferros da escravidão; lá nos Palmares vivi, tenho livre o coração! Nas
minhas carnes rasgadas, nas faces ensanguentadas sinto as torturas de cá; meu
espírito solto não partiu – ficou lá (...). Os negos sempre fizeram parte ativa
na luta por sua liberdade, ao contrário do que a história oficial reza. Foram
varias as agressões contra essa raça tão marginalizada e discriminada, que
ainda hoje, passa por preconceitos, cerceamento de direitos individuais, e que
no passado chegou até castigos físicos, aonde muitos escravos tiveram de pagar
com a própria vida para garantir através de lei uma liberdade de direito e de
fato.
Após a Lei Áurea composta por um único artigo,
começou um longo período de martírio da raça negra, que já permeia o século
XXI. Com a famosa abolição e sem nenhuma política de reparação dos danos
físicos (em todos os sentidos) e simbólicos causados a esse povo, aos poucos
eles foram sendo empurrados para as periferias das cidades e as margens da
sociedade, dano inicio as favelas e aos grupos de “marginais” que explicaria
toda a mazela social dos novos tempos. Pois sem terras para produzir seu
próprio sustento, sem acesso ao ensino publico gratuito, excluídos dos serviços
de assistência básica como saúde, moradia e saneamento básico, o negro foi
engolido por um processo de marginalização sem volta, que contribui ainda mais,
para o que o geógrafo Milton Santo chama de apartheid a brasileira. Pois os
favelados e por consequência, em sua maioria negra, foram taxados de bandidos e
foram usados como elementos de justificação da produção do fracasso escolar,
que segundo - Souza Patos - era explicado pela psicologia sobre a mesma ótica.
Dessa forma, expressões preconceituosas como; “a coisa tá preta”, “hoje tive um
dia negro”, entre outros dizeres discriminatórios, foram enraizados no
subconsciente da nação como um comportamento natural, mas que representa
claramente aquilo que Marx e Vygotsky consideram como uma construção das
relações sociais de um sistema capitalista perverso.
Segundo Florestan Fernandes, entre os brasileiros,
“feio não é ter preconceito de cor, mas manifestá-lo”. Isso representa muita
bem a forma hipócrita como o problema é tratado hoje, existe uma forte
discriminação racial no país, mas que é disfarçada. Em uma partida de futebol
do São Paulo contra um time da Argentina, determinado jogador foi chamado de
macaco, causando uma indignação geral no país, chegando a ponto de um viés
diplomático, porém o país esqueceu que os próprios brasileiros substituíram seu
nome pelo apelido de GRAFITE, que significa miolo de lápis, uma referencia a
sua cor. Segundo Milton Santos, parece que para “a boa sociedade” exige um
lugar predeterminado, lá embaixo para os negros.
Portando, as políticas de autoafirmação são de
fundamental importância para promover e apoiar iniciativas que tenham por
finalidade a integração econômica, política e social do negro no contexto
atual, ainda que sejam polemicas e alvo de criticas desfavorável. Entre algumas
mediadas vigentes, existe o Sistema de Cota que prevê 50% da vagas nas universidades
públicas para alunos provenientes do ensino público e ao grupos de minorias,
tem o Bolsa Família um programa de transferência de renda para parte da
população brasileira que vive abaixo da linha de pobreza. Embora essas ações de
autoafirmação, reparação e de transferência de renda sejam de caráter
transitórias, são extremamente necessárias.
E por que elas são? Por vários motivos, um deles é
por que gera um debate importante sobre o essas situações no Brasil, um país
onde o preconceito ainda existe mesmo que de forma velada; outro fator
interessante seria uma forma imediata de renovar o discurso racista de
quinhentos (500) anos de culpa e cinco (05) anos de desculpas; pois são ações
concretas como estas que sinalizam o início de um processo, que se propõem
reparar todos os danos causados sem perder o foco de políticas mais profundas e
amplas. No entanto, esse processo dever ser desprovido de qualquer iniciativa
que crie um contra preconceito a qualquer tipo de cor ou classe social e muito
menos que tire de pessoas seus direitos, mas que amplie para os renegados e
excluídos por um processo histórico brutal. Muitos intelectuais afirmam que o
sistema de cotas é contrario a democracia e é inconstitucional porque fere o
principio da igualdade, mas esquecem de que negros perderam vidas e foram
cerceados em seus direitos individuais durante mais de V séculos sem nada ser
feito, contudo, parece não ser muito racional buscar justificativas para
excluir ainda mais, aqueles que já perderam tanto. Outros tantos, afirmam que o
acesso a faculdades pela concessão da vaga levaria essas pessoas a passarem por
discriminação, porém, não devemos nos esquecer de que para alcançar a liberdade
muitos negros morreram, então pequeno desconforto que não deveria existir é muito
peuqeno do que aconteceu.
Ainda hoje, precisamos passa por mais essa situação
para formar uma larga escala de negros com pensamento crítico, para que
tenhamos pessoas engajadas e que participe de fato da elaboração das políticas
de inclusão social e reparação racial, caso contrário já mais chegaremos a
cargos do autoescalão, responsáveis por elaborarem as políticas públicas para o
país, ou ate mesmo a condição de chefe da nação.
O Programa Bolsa Família, taxado de fabrica de
dependentes, acusado de distribuir esmola e viciar o cidadão, pelo contrário,
se mostrou um valoroso instrumento de auxili na luta contra o raciscmo de
correção das injustiças praticadas nesse país. Muito se ver falar que o
desenvolvimento econômico do país a médio e longo prazo é que possibilitaria
uma inclusão mais eficiente, muita bem, que seja, mas quem tem fome de verdade
e não apenas vontade de comer, não tem como esperar uma ou duas décadas, tempo
necessário para desenvolver uma política consistente de crescimento. Sem
mencionar que governos que representa uma elite privilegiada, tiveram no mínimo
v século de Brasil e desses, mais de I século de republica para tomar tais
medidas e não as fizeram.
Política
de crescimento do país e reforma educacional para um ensino de qualidade com
certeza é o caminho para a inclusão social, econômica e cultural de todos os
excluídos, mas temos poucos o quase nenhum negro ocupando funções que
possibilita condições para efetivar tais políticas. Enquanto isso, o IBGE
mostra que no grupo de pessoas que segue procurando trabalho os negros lideram
estatísticas; a taxa de desocupação entre eles é de 11,8 ante 8,6 entre os
brancos. ”Além de pretos e pardos terem maior dificuldade de inserção no
mercado de trabalho, quando conseguem, geralmente entram em ocupações com menos
exigência na qualificação e menores salários”, detalha o gerente da pesquisa do
IBGE, Cilmar Azevedo, pois enfrentam situações explicitas de preconceitos a sua
aparência negra, a exemplo de anúncios” precisa de moças com boa aparência. Isso
fica visível na distribuição dos empregos do setor privado com carteira de
trabalho assinada: 59,7% são brancos e 39,8%, negros. Há ainda mais uma
concentração favorável aos brancos; apenas 22% dos pretos e pardos trabalham no
auto escalão do poder publico, são dirigentes de organização de interesse
público e de empresas. Entre os profissionais das ciências, das artes e de
nível superior, eles surgem numa proporção de 18%. Esse estudo reafirma ainda
mais a necessidades dessas mediada, ainda que de caráter transitório, pois elas
têm um papel estratégico na luta por igualdade de oportunidades e representam
parte de um conjunto maior de ações afirmativas, que tendem crescer cada vez
mais em nossa sociedade. Se existe programas melhores que os façam, que se adote
tais mecanismos, mas sem transferir o problema a geração do séc. XXII.