Juan Pousos |
Na minha ultima passa
por Brasília tive o prazer de conhecer e conversar por quase 20 minutos com o
Primeiro Secretário da Embaixada de Cuba no Brasil, o senhor Juan Pousos. E eu
que sou um socialista convicto, naturalmente que não ia perder a de indagá-lo
sobre a realidade da república Revolucionária Cubana, nesse momento tão crucial
para aquele país, que é o inicio do processo da suspensão do embargo econômico
imposto pelos Estados Unidos e todas as nações que rezam sua cartilha. Numa
conversa rápida e chia de interrupções quis saber do senhor Juan Pousos, até
que ponto essa abertura econômica ira afetar as convicções da sociedade cubana
a respeito de suas convicções políticas, sua maneira de ser e sobre tudo o
impacto disso tudo no modelo de sociedade.
Também não perdi a
chance de perguntar sobre diversos como; a presença do Papa Francisco nesses eventos,
uma vez que ele já se mostrou um progressistas por natureza e mediou todo esse
processo, além de escolher a ilha de Fidel Castro como o local de um encontro
com o Kirill líder da Líder da Igreja Católica Ortodoxa
Russa, que não acontecia a aproximadamente mil anos. Falamos do embargo
econômico e político a Cuba, do estabelecimento das relações diplomáticas com
os EUA e a primeira visita do Presidente Obama, além, da construção do Porto de
Mariel na ilha com a participação do Brasil, tão explorada e questionada pela
direita nas eleições presidenciais de 2014, mas que com a abertura econômica da
ilha perceberam que o Brasil se adiantou e deu uma carta de mestre. É sobre isso, que vou tratar nesse
artigo um pouco longa, mas também, não menos interessante e provocativo.
Todos conhecem um pouco da incursão de 80 homens
comandada por Fidel e Cheguevara que devolveu Cuba aos cubanos, que culminou
como uma revolução na ilha, e depois seu alinhamento com a União Soviética no
bloco socialista durante a Guerra Fria fazendo com que as relações com os
Estados Unidos fossem completamente cortadas. Desde então, de 1961 até hoje, um
embargo econômico – dentre tantas outras restrições impostas pelos americanos –
deixou os dois países em lados opostos. Com uma influencia maior o EUA tentou
ao povo cubano um estado de miséria e subjugar a ilha aos seus caprichos, mas
não conseguiram minar a resistência revolucionária.
Ao contrario, a resistência ideológica da ilha
contaminou o mundo, impôs varias derrotas ao embargo nos órgãos multilaterais
como a ON, g-7 e g-15, levando ao inicio do processo de suspensão do bloqueio. Estratégicos que são, o imperialismo
americano mudaram de postura para na passar por vexames e constrangimentos,
adotando idéia do presidente americano é levantar o embargo econômico de vez e restabelecer
as relações comerciais e turísticas com Cuba. Acelerando o processo para
avançar nesse sentido, a exemplo da visita de Obama à ilha no fim de 2014, quando
o mundo presenciou a aproximação histórica entre Estados Unidos e Cuba,
anunciado pelos respectivos presidentes, Barack Obama e Raúl Castro, que
representa para o Juan Pousos a retomada de diálogo e a eliminação de resquício
da Guerra Fria. No entanto, ela garante que isso na representa a mudança de
pensamento do povo cubano, a cerca do modelo de sociedade, o ideário de homem
político, da crença no socialismo como modelo ideal para se promover a
igualdade entre as pessoas, a partir de políticas afirmativas com distribuição
e renda e inclusão. Segundo ele, isso
ficou bem claro e sedimentado em discurso na Assembléia Nacional cubana de 2015,
quando o presidente Raúl Castro disse que o país não está disposto a mudar o
sistema político e não renunciará ao socialismo.
Primeira visita de um Presidente dos EUA |
A primeira vista do Presidente Barack Obama foi
emblemática em vários aspectos, pois após quase 90 anos e décadas de uma
relação conflituosa, pela primeira vez um presidente americano faz uma visita
oficial a Cuba, e quase que por ironia o de maneira estratégica a aparição do
Presidente norte americano se deu em um palanque que frente a uma imagem
gigantesca de Cheguevara, na qual mostra um Obama apequenado pelo ângulo da
câmera. Só para ilustrar, esse desenho tornaria Che um dos ícones mais famosos
e uma das imagens mais reproduzidas do mundo, foi tirada no dia 5 de março de
1960, durante uma cerimônia fúnebre que homenageava vítimas da explosão de um
barco em Havana, Cuba, o fotógrafo cubano Alberto Korda registrou uma imagem de
Che em um momento de concentração, parado, em pé, com um olhar compenetrado. A
foto ganharia, mais tarde, o nome de “Guerrillero Heroico”.
Outro tema que perguntei foi
sobre a participação do Papa Francisco nesse processo e o significado da sua
presença para o povo cubano, se mostrou muito otimista, visto que ele se mostrou
progressista, citando como exemplo o fato do papa ter recebido os 50 maiores lideres
sociais do mundo no Vaticano, para tratar de economia solidária, entre eles João
Pedro Stedile, líder do Movimento Sem Terra (MST). Para Juan Pousos, no momento em que o mundo
vive uma situação excepcional e delicada, fruto claramente de uma política
capitalista agressiva, que desestabiliza governos eleitos democraticamente em
busca de riquezas e mercados consumidores, a visita do Papa Francisco ao país
de Cuba tem uma simbologia profunda. Pois segundo, apesar de Francisco reconhecer
os grandes avanços em varias áreas das ciências, ele alertou para o sofrimento
da humanidade com a fome, com a insegurança, doenças cada vez mais nefastas,
migrações forçadas pela guerra provocadas pelas grandes potências, que procura
solução no efeito e não na causa do problema, tudo isso tira a dignidade do ser
humano, disse ele. Em sua fala ela atribuiu essa realidade nefasta a crença
ingênua num sistema capitalista, na qual o mercado forte e livre resolveria
todos os problemas, pois com o crescimento das economias todos seriam
beneficiados, “liserfire”, termo que quer dizer “deixe fazer”, modelo duramente
criticado pelo papa Francisco em sua primeira Carta de Exortação Papal.
A influencia do Papa no processo |
Esse modelo de desenvolvimento,
aonde o mercado busca o lucro fácil a partir da exploração do outro, em que
transformam as pessoas em resíduo humano, que segundo as palavras do próprio
Papa, o indivíduo humano já teria passado da condição de material descartável
para a situação de lixo humano. Esse sistema perverso que visa o lucro
excessivo, o enfraquecimento de organismos internacionais multilaterais e
humanitários, luta para fortalecer as grandes corporações econômicas cada vez
mais globalizadas, tentando diminuir e desqualificar o papel na promoção do bem
estar dos menos favorecidos e excluídos, a exemplo do que assistimos na Europa,
em que os mais forte economicamente, para manter a hegemonia de suas teses
pressionam os governantes de países mais pobres a sacrificarem seu povo para
manter o status quó de uma minoria sedenta por poder, construindo um novo bezerro
de ouro, o dinheiro. Para não dizer que estou usando a biografia para fazer
proselitismo político, vou citar na integra uma passagem da Carta de Exortação
Papal, chama Alegria do Evangelho, em
que ele diz no parágrafo 59: “Não à
desigualdade social que gera violência”
“59.
Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se
eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários
povos será impossível desarraigar a violência. Acusam-se da violência os pobres
e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias
formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou
mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou
mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas
políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente
a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca
a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema
social e econômico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se,
assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força
nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e
social, por mais sólido que pareça. Se cada ação tem conseqüências, um mal
embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de
dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a
partir do qual não podemos esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado
“fim da história”, já que as condições de um desenvolvimento sustentável e
pacífico ainda não estão adequadamente implantadas e realizadas”.
O encontro de Francisco com Kiril |
Não
menos emblemático foi o encontro
de Francisco com o Lidere Religioso Russo, Kiril, que não acontecia a aproximadamente a mil anos, depois
que se criou a Igreja Católica Ortodoxa Russa. De acordo com o Secretário da
Embaixada Cubana, o encontro realizado em Havana, Cuba durou duas
horas em uma sala de reuniões do aeroporto internacional José Martí. Perguntei então,
por que os dois líderes religiosos decidiram se encontrar em Havana, a capital
de um país que até 1992 era oficialmente ateu e que é também a nação com menos
cristãos na América Latina? Ele Respondeu sorridente que foi em parte sorte,
mas também planejamento estratégico.
Segundo
ele a parte da sorte tem a ver com o fato do patriarca russo ter previsto
viajar a Cuba ao mesmo tempo em que o papa Francisco ia ao México, e assim era
prático para ambos se encontrar ali. Mas ele afirmou que o componente
estratégico está relacionado ao fato de que a relação entre as duas Igrejas é
muito influenciada pela história europeia. Essa relação precisaria de um novo
começo. Por causa disso, a reunião não poderia ocorrer na Europa nem nos Estados
Unidos. Cuba acabou se tornando uma grande escolha porque é amigável com a
Igreja Católica, porque historicamente foi um país católico, mas também para a
Rússia, porque foi o aliado mais próximo de Moscou no continente americano,
afirma.
Vista aérea do Porto de Mariel |
Por
fim, conversamos sobre a parceria brasileira na construção do Porto de Mariel,
com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), que gerou
um alarde danado por parte da direita no Brasil. Nesse momento ele afirmou com uma
propriedade que poucos brasileiros tem sobre o assunto, em função da
contaminação política ideológica sobre esse debate, me mostrando números e
perspectivas econômicas e comerciais para o país. Ele iniciou dizendo que o
Brasil não deu dinheiro publico para Cuba, foi aberto uma linha de credito
junto ao BNDES, no qual 80% dos componentes foram construídos no próprio Brasil,
gerando 150 mil emprego ao país, com 440 empresas envolvidas, gerando uma
movimentação de 800 milhões em exportações e serviços
Mesmo
o governo brasileiro tendo exposto que antevendo o fim do bloqueio a cuba, o país
se tornaria o parceiro econômico de primeira ordem de da Ilha, que aponta para
a tendência de alta da população, que hoje é de 11 milhões de pessoas, alijada
da economia internacional, mas que com a abertura representa um mercado em
potencial para empresas brasileiras, a elite sempre fez duras criticas com
discursos do passado. Mas hoje, frente ao GOLPE em andamento, já começa mudar o
discurso conservador e reacionário, pois as projeções o Porto de Mariel uma
oportunidade ímpar para o comercio exterior do Brasil, pois se localiza a menos
de 150 quilômetros do maior mercado do mundo, o dos Estados Unidos. Sem mencionar, o planejamento da implantação
de uma Zona Especial de Desenvolvimento Econômico criada nos moldes das
existentes na China. Ali, ao contrário do que ocorre no resto do país, as
empresas poderão ter capital 100% estrangeiro. Ele ainda afirmou, que o Itamaraty
sempre buscou completar uma de suas
funções primordiais: mercado para as empresas brasileiras. Não é à toa,
portanto, que o Brasil abriu uma nova linha de crédito, de 290 milhões de
dólares, para a implantação desta Zona Especial em Mariel. Agora resta saber se
com esse governo Interino e Golpista e José Serra, no comando da Política
Externa Brasileira, esse projeto terá continuidade ou será enterrado.