Com essa reflexão preliminar sobre as eleições para
conselheiros tutelares, quero mostrar a importância desse instrumento na
proteção e promoção de nossas crianças e adolescentes, além de analisar algumas
peculiaridades do processo no município de Conceição do Tocantins, num momento
de avanço da forças conservadoras e reacionárias sobre direitos dessa faixa
etária. Outro fator interessante que abordarei será a postura progressista e
plural da sociedade conceicionense na escolha de seus representantes, nesse
momento de disseminação de ódio e preconceitos de naturezas diversas. No
entanto, vamos primeiro ver como se deu esse processo, o que é o conselho e
qual sua função.
No ultimo dia
04 de outubro aconteceram as primeiras eleições unificada para Conselheiros
Tutelares em todo território brasileiro, um órgão permanente e autônomo,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e
do adolescente. No entanto, é grande o numero de pessoas que tem visão
equivocada desse órgão não jurisdicionado, às vezes até mesmo os próprios
conselhos, atribuindo aos seus membros um papel de polícia com atribuições distorcidas de prender e conduzir menores.
Mas de acordo com o Art. 136 do Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), são atribuições do Conselho Tutelar, atender e
aconselhar as crianças, adolescentes e seus responsáveis; requisitar serviços
públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e
segurança;...entre outros. Contrariando o senso comum, suas atribuições são no
sentido de assegurar a criança e o adolescente segurança e proteção, até mesmo
quando é conduzida coercitivamente.
Mesmo com certa desorganização operacional, em que
muitos que foram aos locais de votação exercer seu papel de cidadania e saíram
frustrados por não se encontrarem na lista de votação, podemos considerar
significativa a participação popular. Pois com o numero de 14 candidatos a
campanha foi intensa e conseguiu
mobilizar cidade e campo, dando maior visibilidade ao órgão e, com
certeza acarretará um pressão social sobre os eleitos.
Um ponto que merece destaque foi a diversidade
plural na escolha dos conselheiros; dentre os/as cinco (05) conselheiros/as
temos católicos e neo pentecostais, pessoas do campo e da cidade, pessoas com
serviços prestados em órgãos públicos e representante da educação do campo,
além de representante de grupo de minoria. Neste aspecto, quero abrir um
parêntese para falar um pouco sobre as duas ultimas representatividade.
A primeira é a conquista da Conselheira eleita
Seluana Godinho, que teve seu trabalho calcado na atuação como professora da
educação do campo, dentro de uma comunidade que esta em processo de
reconhecimento de quilombola afro descendente, um grupo que sofreu e sofre todo
tipo de preconceito, excluídos durante muito tempo dos direitos mais
elementares, mas que aos poucos vão avançando em sua luta e conquistando
espaços e direitos.
A segunda abordagem é mais interessante por ser
emblemática, tratar de Creone Tito
(Clea), uma pessoa de orientação homossexual e pela votação expressiva que teve,
ficando como a segunda mais votada. Isso nada teria de mais, não fosse um
debate muito forte sobre que se vive no país sobre os direitos da comunidade
LGBT que vai muito além da questão homo afetiva, chegando até mesmo a estimular
o preconceito e o ódio.
Acompanhado de perto percebi que sua vitória foi o assunto central, entre prós e contras, com manifestações de toda
natureza, muitas de cunho preconceituoso e outras que chegaram à beira a irracionalidade.
Conversando como os conselheiros eleitos, ouvi da candidata eleita Clea que
mesmo após sua vitória tem escutado de fortes manifestações que tanto buscam
desqualificá-la para a função, bem como, altas expectativas daqueles que a elegeu, em que ela acaba se sentido na obrigação de fazer melhor do que os demais para prova seu
merecimento. No entanto, disse a ela que sua orientação sexual não a obriga a
fazer mais que ninguém, mas sim cumprir aquilo que é atribuição dos demais conselheiros e
pronto.
Porem cabe a sociedade, além de acompanhar e cobrar
uma boa atuação dos conselheiros, pressionar para que o poder público municipal
dê as condições adequadas para que os mesmos desenvolvam seu trabalho de
maneira digna e humana. Pois o estatuto do Conselho Municipal da Criança e do
Adolescente, responsável por elaborar e fiscalizar a implementação dessas
políticas, diz que o a gestão municipal tem que repassar 1% de todo orçamento para o Conselho Tutelar,
que num valor de 400 mil reais representaria 4 mil, se for o caso, pois o orçamento
não é fixo e sim oscilante.
Relação nominal dos eleitos por quantidade de votos:
1º lugar: Evanilde (esposa de Joanito) - 448
2º lugar: Creone Tito ( nome social: Clea) - 402
3º lugar: Gleiva Azevedo (Esposa de Gersonil) - 339
4º lugar: Seluana Godinho (Filha de Sancho e
Luiza) - 318
5º lugar: Jaciara Rocha ( filha de Jura) - 279
Suplentes:
1º suplente: Edmilson Leite (filho de Abenil) - 277
2º suplente: Delma Carlos (esposa de Dira) - 272
3º suplente: Nayara (esposa de Voney) - 268
4º suplente: Darilene Cardoso (esposa de Edilton
PM) - 260
Parabéns professor Drawlas pelo artigo. Realmente o preconceito e a intolerância são dois assuntos bastantes recorrentes no dias atuais, sobre tudo os de cunho racial e de opção/orientação sexual. Ficou evidenciado que a comunidade conceiçãonense* está amadurecida nesse aspecto e a candidata eleita Cleia tem personalidade. Fica a observação: a alcunha do pai da candidata Jaciara Rocha está escrito errado. O certo seria Jurá.
ResponderExcluir*sugestão do corretor de texto