Em conformidade com os apoiadores e financiadores do golpe, o
governo Michel Temer está veiculando nas redes sociais uma campanha
pela reforma da Previdência. Sobre uma imagem catastrofista que mais
parece cartaz de filme hollywoodiano no gênero Armageddon, o texto diz:
“Se a reforma da Previdência não sair: Tchau, Bolsa Família; Adeus,
Fies; Sem novas estradas; Acabam os programas sociais”. Quem assina é o
PMDB.
Espantoso. O mundo em ruínas. Nem comerciais de medicamentos
fazem tanto terrorismo. Não me recordo de nenhum que fosse tão
apelativo frente a alguma moléstia.
Enquanto toca o terror no pobre cidadão contribuinte, a
campanha (e, de resto, a reforma como um todo) ignora propositalmente
uma questão básica. Empresas devem bilhões ao INSS. Bilhões. São R$ 426
bi, segundo a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Isso
significa o triplo do déficit da Previdência em valores do ano passado. O
triplo.
63% da dívida previdenciária é devida por poucas empresas. A
imensa maioria delas ativa (82%). E essa bufunfa toda é desdenhada pela
reforma proposta na gestão PMDB.
“O governo fala muito de déficit na Previdência, mas não
leva em conta que o problema da inadimplência e do não repasse das
contribuições previdenciárias ajudam a aumentá-lo. As contribuições não
pagas ou questionadas na Justiça deveriam ser consideradas na reforma”,
disse o presidente do Sindicado dos Procuradores da Fazenda Nacional
(Sinprofaz), Achilles Frias, em entrevista à Carta Capital.
A Carta trouxe ainda a lista com as 20 empresas que mais
devem à Previdência. Os vinte maiores caloteiros de um ranking de outras
32.224 empresas que ‘dão o gato’ no INSS (e, de quebra, no trabalhador e
nos aposentados). JBS e Vale, por exemplo, figuram entre os campeões.
Muito embora a maioria das empresas devedoras estarem
ativas, nos 3 primeiros lugares da lista estão a Varig e a Vasp, falidas
há anos, o que siginifica que uma quantia considerável jamais será
recuperada. Ou seja, algumas empresas não pagam em vida e nem depois da
morte. A conta fica para a viúva. Aliás, de toda a dívida de empresas
com a Previdência, estima-se que 30% tem chances remotas de serem
honradas.
Por que serão poupadas na hora de dividir o prejuízo? Por
que a conta cairá nas costas do trabalhador que terá que ter muita saúde
para conseguir se aposentar (ganhando menos, diga-se)? Recapitulando: o
tamanho do calote que as empresas dão no INSS é três vezes maior do que
o déficit anual divulgado pelo próprio governo. A resposta é elementar.
Todo o circo armado para catapultar Dilma Rousseff de Brasília foi
orquestrado por tucanos e pemedebistas, mas financiado pelo
empresariado.
A FIESP torrou rios de dinheiro na campanha pelo
impeachment. Sim, a FIESP de Paulo Skaf, aquele que, segundo delações de
Marcelo Odebrecht, estava na cota do R$ 10 milhões de Temer (levou R$ 6
milhões), defende os patrões, não os empregados. O templo piramidal da
avenida Paulista agradece a reforma de Temer.
“A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional entende que o
verdadeiro ajuste fiscal é cobrar de quem deve para não onerar quem
paga”, declarou Daniel de Saboia Xavier, coordenador-geral de grandes
devedores da PGNF. É confortante saber que o coordenador-geral pense
assim, mas é preciso mais que boas intenções para que o país não se
perpetue em suas injustiças.
Patrões têm facilidade, prática e anistia nas sonegações
enquanto o trabalhador registrado já é mordido na fonte, sem
escapatória. Os ricos pagam proporcionalmente menos impostos que os mais
pobres no Brasil e agora desejam que estes trabalhem por mais tempo
antes de se aposentarem.
Para quem ainda não assistiu, aconselho o documentário “A
13ª Emenda”. Revela como a criminalização dos negros foi criada para
compensar a abolição da escravatura nos EUA. A julgar pela desiguldade
social em que vivemos, a reforma previdenciária brasileira tem suave
aroma de escravidão.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/empresas-devem-o-tripo-do-deficit-do-inss-mas-temer-precisa-cumprir-sua-parte-no-golpe-por-donato/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sejam críticos, mas construtivos