3.26.2013

Folias do Divino: uma tradição centenária


As folias que não tem aquele sentido profano de folguedo, brigas ou confusão, são ainda hoje, em Conceição do Tocantins, uma prática em plena atualidade, convivendo mesmo com o progresso que nos últimos anos tem chegado ao município.
Anualmente sai duas folias, cujo objetivo é o giro de 40 dias representando o período em que o Espírito Santo pairou sobre a terra,que sai no domingo de páscoa e percorre a maior parte do município.
A tradição manda que durante o giro, os foliões pratiquem abstinência sexual e preparem as cantigas de rodas e catiras para serem cantadas nas casas visitadas, aonde a folia pernoita. Os temas cantados são: a política e os acontecimentos cômicos do município, sempre em tom satírico e jocoso.
Existe os cantos especiais quase invariáveis, que são  os pedidos e agradecimento pela esmola,  o pedido de rancho, a despedida, o agradecimento de rancho, o canto do cruzeiro e muitos outros.
Os foliões, em geral de 08 a 12 pares ternos da folia, incluindo o alferes que conduz a bandeira e o caixeiro incumbido de rufar as caixas rústicas, feitas de madeira oca e pele de animal, com requintes intercalados. A tarde vão a Igreja Nossa Senhora da conceição, as caixas repicando e o sino batendo, onde os foliões cantam na sua maneira de rezar, pedindo a benção ao divino Pai Eterno,  logo apos saem seguindo o alferes até o local do cruzeiro, la montam nos seus animais e sai para o demorado giro, cada folia para sua direção.
Nas casas onde param para o pouso (previamente escolhidas e avisadas), fazem o pedido e depois agradecem, sempre em forma de cantos. Depois podem cantar rodas e catiras, antes de prosseguirem até o local do rancho da nova dormida, onde é solenemente feito o pedido para pernoitarem cantando com acompanhamento da caixa, da viola e pandeiros. À noite, após o jantar, divertem os visitantes cantando rodas e catiras acompanhados de instrumentos já citados e sapateados.
Ao alvorecer os foliões são despertados pelo caixeiro ao repicar e rufar a sua caixa.
Em cada casa a folia é recebida pela família que no momento do canto ajoelha e é coberta pela bandeira conduzida pelo alferes. Às vezes, o dono da casa pede a bandeira e percorre todas as dependências da casa, para que seja abençoados todos os cômodos.
O giro se desenvolve nessa rotina até o dia da chegada, quando se verifica o encontro das folias, solenidade que conta com acompanhamento da população.
Após os 40 dias de giro, as folias se encontram na praça da cidade, sobre os olhares de dezenas de devotos, para assitirem os cantos de encontro, os alferes realizam gesticulações com as bandeiras ondulando ao vento. Estas gesticulações são denominadas venas que culminam na saudação do povo e a outra folia, ocasião em que os foliões de uma folia saúdam a bandeira da outra. Em seguida vão todos para a Igreja saudar Nossa senhora da Conceição e agradecer a proteção recebida durante o giro.
Saindo da Igreja vão para a casa do Imperador, pessoa responsável pela organização dos festejos e realização das folias, onde canta o canto especial, destinado a ele, ocasião em que toda sua família se deixa encobrir pela bandeira.
Após o jantar e o canto de ação de graças, brincam até o amanhecer e depois prestam conta ao Imperador, das esmolas recebidas, que se destina ao pagamento das despesas da festa e ajudar a Igreja na manutenção de seus trabalhos.

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