8.05.2013

Matriz Nossa Senhora da Conceição do Tocantins; Um pilar na história tocantinese





Matriz Nossa Senhora da Conceição 

Escrever sobre história não é apenas falar do passado divorciado do presente, mas localizar e analisar fatos e dados que contribuam para a formação da identidade sócio-cultural de uma comunidade. por isso, nesse cinquenta (50) anos de emancipação politica de nossa querida conceição resolvir publicar aqui esse artigo que escrevi ha anos, que brevimente o paro
O lócus deste trabalho é a cidade de Conceição do Tocantins, antiga Conceição do Norte. Região povoada por volta de 1741, sendo elevada a categoria de Vila de Nossa Senhora da Conceição em 1854, vindo conquistar sua autonomia política em 07 de agosto de 1963, quando se desmembrou do município de Dianópolis. (Rocha, 1990, p.145).
A primeira habitação desta região deve sua origem ao riquíssimo garimpo de ouro baseado no trabalho escravo. Naquele tempo Conceição possuía 70 casas, uma capela de Nossa Senhora do Rosário e a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, objeto de nosso estudo.
Contudo tornou-se de grande importância administrativa regional, chegando a sediar Comarca Judicial, Colégio Eleitoral das Cidades vizinhas, sede Regional da Guarda Imperial, bem como sede de administração eclesiástica. Como paróquia, aqui chegou a residir até quatro padres. (Povoa, 1986 p. 14).
Hoje Conceição do Tocantins possui 4.17 mil, habitantes, segundo o último Censo do IBGE. Tem como atrativo principal suas expressões culturais como o Congo, as Folias do Divino, as festas religiosas, o artesanato local e as danças rítmicas. Todos esses valores serão apresentados juntamente com um perfil histórico da IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, em forma de painel.
Objetivando fazer um estudo preliminar sobre a Igreja Matriz, com base em pesquisas bibliográficas e entrevistas com moradores locais, procuraremos abordar alguns de seus aspectos, como sua construção com base no trabalho escravo, sua influência político-econômico, época em que a Igreja exercia forte domínio no mundo, assim como sua contribuição na formação da identidade sócio-cultural do povo conceicionense.
Embora seja um estudo preliminar, daremos ênfase nesse último aspecto, realçando importante legado cultural deixado pela etnia negra. Contrariando assim muitas teorias racistas, a exemplo de SÍLVIO ROMERO, quando ele afirma: “Do consórcio da velha população latina, bastante atrasada, bestamente infecunda, e de selvagens africanos, estupidamente talhados para o trabalho escravo, surgiu, na máxima parte, este povo”.
Portanto, descentralizando nossa analise do ponto de vista europeu, observaremos neste trabalho, um grande valor cultural. Veremos que homens e mulheres de origem africana são excludentes, em seus corpos, em suas vozes, nas cores que usam em suas roupas, em sua forma de mostrar afeto, até em sua forma de fazer política. Basta ver suas diversas manifestações, contra ou a favor, eles cantam e dançam para expressar seu agrado ou desagrado.
Durante nossa abordagem esses elementos, ficarão explícitos, bem como, suas sutilezas na resistência da aculturação européia, ou seja, sua maneira sábia de se organizar contra a imposição de uma cultura dominante.

2  PERFIL POLITICO-ECONÔMICO.

2.1 Construção
Parede lateral da igreja

Segundo PÓVOA (1986), nos tempos de glória do riquíssimo garimpo dessa região, hoje cidade de Conceição do Tocantins, chegaram trabalhar cerca de 10.000 (dez mil) escravos, tanto nas minas de ouro quanto nas grandes fazendas de gado e café, esse quantitativo chega a representar o dobro da população atual segundo o ultimo censo.
Como tudo que se produzia e construía naquela época, era fruto do trabalho escravo, A CONSTRUÇÃO DA IGREJA MATRIZ não foi diferente. Foram inúmeros os negros que morreram nas escavações das minas da qual era retirado o ouro que sustentava toda prepotência de seus senhores, aproveitando as pedras para construir uma grandiosa igreja, para a época.
Ainda hoje, pode se vê ao lado da igreja restos das escavações da mina, que forneceu material para construção das paredes, que chega a medir aproximadamente 40 metros de comprimento, 7 de altura e 80 centímetros de espessura.
O fato curioso, é que até pouco tempo, antes do calçamento ao redor da igreja, era comum às pessoas encontrarem pequenas pepitas de ouro, do barro que escorria das paredes com as águas das chuvas.

2.2. Imagem de Nossa Senhora da Conceição
Essas relíquias sempre fizeram parte da cultura e da crença popular dos moradores locais. Na igreja matriz, além da imagem de N.S. da Conceição, possuía outras imagens todas de madeiras, que segundo os moradores tinham seu interior oco e recheado de ouro.
A imagem da Santa Padroeira foi doada pelo CEL. FULGÊNCIO DA SILVA GUEDES,
Comandante Regional da Guarda Imperial, e foi trazida de Barreiras-BA, em lombo de “mulas”, que era sempre acompanhada por uma comitiva, que na chegada foi recebida com grande festividade.
O fato curioso, segundo relato de moradores da cidade, foi que o animal utilizado no transporte, recebeu uma espécie de alforria, isentando-o de qualquer tipo de trabalho até os últimos dias de vida.

2.3  O Sino
O sino da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição é feito de ferro e segundo os moradores mais velhos do local, ele foi trazido de SÃO DISIDÉRIO – BA, em lombo de mulas acompanhado de uma grande comitiva, visto que naquele tempo, o único tipo de transporte era através de animais.
Segundo VYGOSTSKY, os signos e os instrumentos exercem importante função de mediação do homem com o meio em que vive. Ha exemplo de outras cidades históricas, o sino em Conceição tem uma função comunicativa, onde quase todos os moradores sabem diferenciar suas batidas, que comunica e informa desde uma data comemorativa, notas de falecimento, missa e outros eventos.
Ficando assim evidente seu caráter histórico e social. Como fator histórico preexiste aos indivíduos e é passível a mudanças, que se desenvolve ao longo do processo, tomando outras formas de representação. Como fator social, é de uso de todo grupo e não apenas de um indivíduo, criando assim formas culturais e sistemas simbólicos de comunicação.
Como marca da influência da cultura européia, o sino conta das seguintes inscrições em Latim, bem como as iniciais de seu fabricante: “SIGNUN CRUCIS VENITE, ADOREMOS ECDE”. FEITO POR O.D.F. EM 1880.


3 – INFLUÊNCIAS POLÍTICA DA IGREJA
Casarão antigo, que abrigou sede administrativa e educacional.


Como toda a Igreja Católica na época, a Matriz Nossa Senhora da Conceição exerceu forte influência político-econômica e na formação sócio-cultural do povo conceicionense, nos séculos XIX e XX.
Até bem pouco tempo, os limites entre os municípios vizinhos como Dianópolis, Almas, Natividade e Paranã, eram antigas demarcações feitas pela administração paroquial. Um dos exemplos são os ofícios emitidos pelo Padre JOÃO DE DEUS GUSMÃO ao Presidente da Província e ao Secretário do Bispado.
Essas delimitações administrativas também limitavam a área de comércio da cada município, mostrando assim, o poder da Igreja em geral e em especial da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Veja transcrição de documento que reforça esse aspecto.

3.1 – Documento nº 1
VILA DA CONCEIÇÃO DO NORTE, 15 DE SETEMBRO DE 1873.
Ilmoº. Revmº.sr.
”Acuso a recepção do respeitável Ofício de V. Revmº com data de 1º de julho p.p no qual acusa-me não existir na Secretaria documento algum que esclareça a respeito dos limites das freguesias de Conceição de São José do Duro, a exceção da Lei provincial de 1859, alterada pela de 1860 (?) e que diz respeito ao Distrito de Paz.
Tenho a honra de responder a V. Revm°. Que não havendo nesta freguesia esclarecimento algum que diz respeito a limites antigos e tendo eu sido provido de coadjutor desta freguesia no ano de 1843, achando-se o Vigário Geral SALVADOR ESPÍRITO SANTO CERQUEIRA paroquiano a freguesia do Duro e sendo esta também entregue para paroquiar como capela filial desta Matriz, paroquiei o Duro até ser elevado a freguesia e nunca soube de seus limites antigos e da elevação só sei destes limites que ao depois me foram determinados para paróquia pelo mesmo Vigário Geral, que administrasse os sacramentos até a beira da serra do Duro onde tenho administrado os sacramentos até o presente não achado esclarecimento de limites, só sim este em rascunho velho que o dito Vigário tinha remetido ao Exmº. Sr. Presidente da Província, o qual copiei para lhe enviar a cópia, informando-lhe das autoridades do lugar foi o que me disseram a este respeito”.

Deus Guarda V. Revm°.
Ilmo. Revmº Sr. José Ira Xavier Serra Dourad




a
Secretário do Bispado
O Pe. João de Deus Gusmão

3.2 – Documentos nº 2
 Ilmo Exmo Senhor

Em observância do respeitável Ofício de V. Exa. De 22 de 8br° do ano p.p tenho a honra de responder aos requisitos contidos no referido Ofício. 1° os limites dessa freguesia são ao norte a barra do Ribeirão Moleque no Manoel Alves, por este ribeirão acima até sua cabeceira, ao poente, desta em rumo direito a cabeceira do ribeirão Gameleira, por esta, abaixo até sua barra com o rio Palmas ao sul, deste ao norte rumo a direção do rio Manoel Alves, por este abaixo até a barra do Moleque já dito. Consta-me haver quem conteste esta divisão pelos ultimamente feita entre esta freguesia e a do Duro; eu, desprevenido de paixões e interesses, reflito que nenhum prejuízo ou inconveniente resulta aos habitantes daquela freguesia, essa divisão pelos limites que se acham feitas, pois em nada diminuiu a sua população, que é muito maior do que a desta: aquela tem um vasto território serra acima, com melhores cômodos para plantação, criação e mesmo mineração e por isso tem aumentado muito e continua a aumentar sua população onde só falta ordem, visto a desmoralização em que se acha e que o resultado tem sido as freqüentes desordens e assassinos aí perpretados; o que a eles a indispensável são as medidas do Exmº. Governador para policiar o povo, a fim de compreenderem a ordem social e deixarem os costumes bárbaros dos que vem para ali procurando asilo.
Este é meu pensamento a respeito dos habitantes do Duro, principiando por ter um professor de primeiras letras para instruir a mocidade que vive como selvagens: seguindo depois os mais adequados meios de animar a indústria e a lavoura para que é própria do lugar: enfim, Ilmo. Sr. Estas e outras semelhantes medidas podem fazer a prosperidade dos habitantes do Duro e não a divisão que conteste pois em nada os prejudique, parece ser pensamento de um só homem. 2º Existem duas casas do SSM° Sacramento arruinada e alugada. 3° A fábrica regida pela Lei n° 10 de 30 e junho de 1846, nada têm cobrado, senão das missas cantadas, sepulturas e cruz (?), os rendimentos não chegam para os quizamentos e o Livro acha-se em poder do fabriqueiro. 4° Nessa Matriz se fazem 6 (seis) festas anuais e nenhuma tem irmandade  nem compromisso. 5° Nesta Vila há uma capela de Nossa Senhora do Rosário, arruinada e com falta de parâmetros, com a irmandade sem compromisso e não tem bens de raiz e as poucas alfaias que existem estão em poder do Tesouro. Existem mais duas capelas filiais, uma de Nossa Senhora das Neves, num lugar denominado Príncipe, com uma casa de oração antiga, sem parâmetros; outra de Nossa Senhora do Rosário de Itaboca, também arruinada e sem parâmetros, ambas aos cuidados e poder dos moradores. Há seis cemitérios, um antigo no sítio de Taipas, outro no sítio Miradouro, ambos cercados de madeiras. Finalmente envio o quadro incluso dos batizados, óbitos e casamentos dos anos de 1850 a 1860. A população calcula-se em 2.636. Resta-lhe suplicar a V. Exa. Indulgência pela lacuna e falta que involuntariamente tenha cometido. Deus guarda V. Exa. Conceição 26 de fevereiro de 1.861.

3.3 – Cel. Fulgêncio da Silva Guedes: Uma das Expressões Políticas do Município

O Cel. Fulgência da Silva Guedes era homem de princípios rígidos, cioso de suas prerrogativas de Oficial da Guarda Imperial, cuja patente foi assinada pelo Imperador.
 “Profundamente religioso, o Cel. Fulgêncio da Silva Guedes era zelador da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Norte, onde eram sepultados os mortos antes da secularização dos cemitérios, em 1889. Ele foi uma das honrosas exceções de sepultamento dentro da Igreja, após a secularização. Numa das paredes laterais da pequena e secular igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, vê-se uma lápide com uma belíssima profissão de fé”. (Povoa, 1986).

SUA PATENTE DE CAPITÃO ERA ASSIM REGIDA
“D. Pedro por graças de Deus e unânime aclamação dos Povoa, Imperador Constitucional e Defensor perpétuo do Brasil, faço saber aos que esta minha Carta Patente virem que hei por bem nomear Fulgêncio da Silva Guedes para Capitão Quartel Mestre do Comando Superior da Guarda Nacional da Comarca  de Palma da Província de Goiás e como tal gozará de todas as honras, privilégios, isenções de franquias que diretamente lhe pertencem. Pelo que mando à autoridade competente que lhe dê posse depois de prestar o devido juramento e o deixe servir e exercitar o dito posto; aos Oficiais superiores que o tenham e reconheçam por tal honrem e estimem e a todos os seus subalternos que lhe obedeçam e guardem duas ordens, no que tocar o serviço nacional e Imperial, tão fielmente como devem e são obrigados. Em firmeza do que lhe mandei passar a presente Carta, por mim assinada, que cumprirá como ela se contém, depois de selada com o selo grande das armas do Império. Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em vinte e três de Dezembro de mil oitocentos e oitenta e dois, sexagésimo primeiro da Independência o Império. Ass. P. Imperador.
Sua influência é tão forte, que ainda hoje, seus familiares e amigos o homenageia colocando seu nome nos filhos de maneira integral. Dessas homenagens, encontra-se FULGÊNCIO DA SILVA GUEDES, falecido em julho de 1999, que participou intensamente da vida política do município, chegando a ser vice-prefeito, vereador por varias vezes e uma das pessoas que mais lutou pela continuidade cultural da cidade, entre elas a CONGADA, que é sua própria essência.

4 – ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS
4.1. Congada: Centenária Tradição Folclórica

Dança de motivação africana, o Congo é um ato popular criado por escravos, que consistia na coroação de faz de conta de um Rei negro, escolhido dentro de uma comunidade religiosa. Assim sendo, a irmandade de Nossa Senhora da Conceição tinha seu rei, a de Nossa Senhora dos Remédios em Arraias tinha o seu, bem como a irmandade de Nossa Senhora da Natividade em Natividade também.
Após a escolha do Rei, um cortejo vestido de roupas coloridas o acompanhava pelas ruas contando e dançando, até a porta da Igreja Matriz. Chegando ao local o Rei era coroado com uma coroa de latão, por um oficial de justiça o qual lhe entregava um certificado com validade de um ano. Durante esse período, ele tinha o respeito de seus súditos negros, mediando inclusive desavenças no relacionamento entre o grupo e com seus senhores.
Embora seja criada por escravos no Brasil, a presença de elementos da cultura africana é evidente. Ainda mais, quando se analisa a história da República do Congo, onde os Reis tinham o costume de viajar pelo país com uma enorme caravana, com pessoas de roupas coloridas, cantando e dançando e maneira exuberante.
Apesar de seu caráter festivo, onde os donos de escravos aproveitavam para diminuir o ímpeto de alguns inconformados, podemos retirar das congadas, de forma analógica, outro conceito. Analisando a parte dramática onde os personagens dialogam, podemos observar o retrato das lutas políticas da época pelo domínio territorial na corrida pelo ouro. Na congada de Conceição, sua parte dramática expressa as relações de poder entre as Capitanias do Pará e Maranhão, bem como suas influências no território, onde hoje situa o Estado do Tocantins.
Fica então uma interrogação; se cada irmandade tinha um rei, se cada rei tinha o respeito de seus súditos, se as dramatizações continham expressões políticas da época, não seria esse evento de faz de conta, uma estratégia política na luta contra a escravidão? Assim como a roda de capoeira, tida como uma dança negra, e que era uma verdadeira arma dos negros na luta contra o regime escravocrata.

4.2 – Festa do Divino Espírito Santo

Bandeira do Divino Espirito Santo
 
A festa em homenagem ao Divino Espírito Santo, realizada anualmente no segundo domingo do mês de julho, transforma a cidade de Conceição num festival de cores. Os dançadores de CONGO com suas roupas coloridas, folclóricas e centenárias, enchem as ruas com um espetáculo de cores e sons para a entrega da CORÔA ao responsável pelo festejo do próximo ano. Os romeiros prestigiam a congada de Conceição, com seus olhares curiosos que captam momentos de ternura, cansaço e de pura alegria numa festa que prima pela profusão de tonalidade. O verde, o azul, o vermelho e o branco são cores presentes nas vestimentas dos dançadores, que se empolgam com o prazer de participar desse momento de pura magia.
Não obstante, os tantos detalhes captados pelos romeiros e a sua grande manifestação de fé, já podem observar certos aspectos de descaracterização da congada, porquanto seja uma manifestação folclórica que chegou a Conceição no séc. XIX. No transcorrer da história houve algumas transformações e perdas de fragmentos da dramatização. A título de exemplo, hoje muitos brancos integram o grupo de representantes, deixando de ser uma manifestação exclusiva de negros que reverenciam a libertação dos escravos. Frise-se, não se quer com isso, praticar qualquer discriminação, até mesmo por que as miscigenações ocorridas no Brasil transformaram os brasileiros no povo mais completo em termos culturais. Busca-se, na verdade, mostrar as variações ocorridas com a congada no transcorrer do tempo. Variações como os toques de modernidade nas vestimentas e a profunda religiosa popular que vem desde sua origem.

A coroa é o símbolo de uma festa que resiste ao tempo, está presente em todos os lugares em forma diferenciada. É ela que da à congada um sentido de realeza. O santo festejado é enaltecido ao longo dos anos, como um dos responsáveis pela libertação dos escravos, em razão do seu poder milagroso.
 NOVIDADE: Evidencia-se da forma mais orgulhosa possível, a participação de alguns conceicionenses que saíram para estudar noutras cidades e, retornam quase que exclusivamente para abrilhantarem ainda mais o evento. Registram-se presenças importantíssimas de autoridades como governantes e autoridades dos mais diversos segmentos, que tem um apreço especial pela Congada de Conceição, confirmando a importância e os valores culturais desse evento, que a nosso ver, temos a obrigação moral de cultivar e apurá-lo, buscando aproximá-lo da forma mais original possível.

 4.3 – Folia do Divino

As folias que não tem aquele sentido profano de folguedo, brigas ou confusão, são ainda hoje, em Conceição do Tocantins, uma prática em plena atualidade, convivendo mesmo com o progresso que pelos últimos anos tem chegado ao município.
Anualmente sai duas folias, cujo objetivo é o giro de 40 dias representando o período em que o Espírito Santo é arrecadar esmola para a festa do Divino no mês de julho. Sai no domingo de páscoa e percorre a maior parte do município.
A tradição manda que durante o giro, os foliões pratiquem abstinência sexual e preparem as cantigas de rodas e catiras para serem cantadas nas casas visitadas e onde a folia pernoita. Os temas usados são: a política e os acontecimentos cômicos do município, sempre em tom satírico e jocoso.
Existe o canto especial quase invariável, que são de os pedidos e agradecimento de esmola e pedido de rancho, e da despedida e agradecimento de rancho, o canto do cruzeiro e muitos outros.
Os foliões, em geral de 08 a 12, por folia, incluindo o alferes que conduz a bandeira e o caixeiro incumbido de rufar as caixas rústicas, feitas de madeira oca e pele de animal, com requintes intercalados. Quando a tarde elas vão a Igreja Nossa Senhora da conceição, as caixas repicando e o sino batendo, onde os foliões cantam na sua maneira de rezar, pedindo a benção à santa saem depois seguindo o alferes até o local do cruzeiro. Em seguida montam nos seus animais e sai para o demorado giro, cada folia para sua direção.
Foliões de um dos ternos da folia

Nas casas onde param para o almoço (previamente escolhidas e avisadas), fazem o pedido e depois agradecem, sempre em forma de cantos. Depois podem cantar rodas e catiras, antes de prosseguirem até o local do rancho da dormida, onde é solenemente feito o pedido para pernoitarem cantando com acompanhamento da caixa, da viola e pandeiros. À noite, após o jantar, divertem os visitantes cantando rodas e catiras acompanhados de instrumentos já citados e sapateados.
Ao alvorecer os foliões são despertados pelo caixeiro ao repicar e rufar a sua caixa.
Em cada casa a folia é recebida pela família que no momento do canto ajoelha e é coberta pela bandeira conduzida pelo alferes. Às vezes, o dono da casa, pede a bandeira e percorre todas as dependências da casa, para que seja abençoado todo o cômodo da residência.
O giro se desenvolve nessa rotina até o dia da chegada, quando se verifica o encontro das folias, solenidade que conta com acompanhamento da população.
Após o canto de encontro, os alferes realizam gesticulações com as bandeiras ondulando ao vento. Estas gesticulações são denominadas venas que culminam da saudação do povo e a outra folia, ocasião em que os foliões de uma folia saúdam a bandeira da outra. Em seguida vão todos para a Igreja saudar Nossa senhora da Conceição e agradecer a proteção recebida durante o giro.
Saindo da Igreja vão para a casa do Imperador, pessoas responsáveis pela organização dos festejos e realização das folias, onde cantam o canto especial, destinado a ele, ocasião em que toda sua família se deixa encobrir pela bandeira.
Após o jantar e o canto de ação de graças, brincam até o amanhecer e depois prestam conta ao Imperador, das esmolas recebidas, que se destina ao pagamento das despesas da festa e ajudar a Igreja na manutenção de seus trabalhos. Depois da missa solene, é realizado o sorteio para a escolha do Imperador do ano seguinte, (Povoa, 1986).

Chapeu de couro usado pelos foliões
 
                                       
A caixa: instrumento sonoro das folias
    






 
Pandeiro: instrumento sonora das folias
     
  Sela: Montaria dos foliões em aninais.









7.30.2013

A classe médica à brasileira

Stânio de Sousa Vieira – Sociólogo e Historiador
Estamos acompanhando as manifestações da classe médica brasileira contra a vinda dos médicos estrangeiros e contra a mudança, na proposta do Governo Federal, que busca alterar a grade curricular dos cursos de medicina para determinar que os estudantes trabalhem por dois anos em hospitais e nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), no final do curso de medicina.
Como adepto da democracia, compreendo as reivindicações da classe médica, mas entendo que tenho o direito de discordar, até porque analiso essas reivindicações como um tanto sem nexo, sobretudo do ponto de vista ético e moral.
Há cerca de três semanas atrás as manifestações espalhadas pelas ruas brasileiras tinham como uma das pautas principais a melhoria da saúde pública. Aliás, muitos desses manifestantes eram jovens médicos que também exigiam uma saúde pública de qualidade! No entanto, quando o governo federal encaminhou, por meio de medida provisória, o programa “Mais Médicos”, que tem o objetivo de aumentar o número dos médicos atuantes na rede pública de saúde em regiões carentes, e permite a vinda de profissionais estrangeiros (ou de brasileiros) observamos um posicionamento majoritário de negativas ao programa.
As acusações contrárias, majoritariamente, eram a respeito do médico estrangeiro e ao atendimento de dois anos no final do curso em hospitais e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). A partir dessa realidade comecei a analisar os discursos da classe médica sobre esses dois questionamentos, e cheguei à conclusão de que o posicionamento tinha o alcance de xenofobia e de preconceito de classe.
Por quê? Vejamos: no primeiro caso, dos médicos estrangeiros, o foco era desqualificar os médicos estrangeiros como incompetentes. Então pensei, deve ser uma questão ufanista. No entanto, os discursos foram aprofundados e sintetizaram a lógica: “somos contra os médicos estrangeiros, pois a medicina cubana, boliviana ou venezuelana não tem o mesmo gabarito da brasileira”, ou seja, não são contra os estrangeiros, mas contra alguns estrangeiros, no caso, os desses países citados. Ora, o edital do programa “Mais Médicos” é aberto para todos os estrangeiros, mas a moral da história é que esses países são pobres econômica e politicamente e divergem da lógica do capital: daí os bastidores da discórdia.
Esses mesmos médicos não citam, por exemplo, que vários médicos britânicos e suecos são adeptos da medicina preventiva cubana, pois esses países consideram a medicina de Cuba, na perspectiva de prevenção, como vanguarda mundial. O segundo ponto mais questionado é estudar os dois últimos anos em hospitais e serviços do SUS. O principal argumento é que esses hospitais não oferecem condições de trabalho para esses médicos exercerem a profissão de forma digna, todavia essa realidade dos problemas dos hospitais públicos não são de agora, então, por que a classe médica nunca se manifestou com passeatas nas ruas?
O outro argumento é que os salários são baixos, portanto não compensa trabalhar para o SUS. Então, se o SUS é tão ruim para os médicos por que os mesmos não socializam para a sociedade que as clínicas filiadas ao SUS recebem benefícios de redução tributária, inclusive nos medicamentos adquiridos? Por que não reivindicam, de forma unificada, o plano de cargos e salários para a carreira médica? Ora, isso fatalmente resultaria em teto salarial, algo que dificultaria os subsídios pomposos que ganham em vários municípios deste País.
Até que se prove o contrário, os médicos brasileiros que se inscreverem no programa “Mais Médicos”, para trabalharem vão receber uma contribuição de 10 mil reais e mais ajuda de custo para mudança de município. Para quem não sabe, esse salário é para o médico que nem mesmo concluiu a graduação, enquanto um professor universitário já doutor, em início de carreira não recebe nem perto desse valor! Moral da história: o que está em questão nessa situação é uma situação de classe social, pois para a maioria desses médicos trabalhar na periferia ou cidades afastadas de grandes núcleos urbanos é algo indesejado, pois a maioria reside em uma área urbana mais confortável. Não que os mesmos não possam ter o gozo do status, mas a carreira médica precisa privilegiar a vida, aliás, como juram os médicos em sua formatura! A prova é que esses médicos que trabalham nas cidades mais afastadas recebem a média de 20 mil reais, às vezes, para exercer a função médica, por dois dias da semana. No entanto, a maioria age com falta de urbanidade com os pacientes e demais funcionários. Então, é uma questão de dinheiro?
É apenas uma questão cultural, pois os médicos à brasileira são exemplos fiéis do Estado brasileiro, de formação autoritária, em que o serviço público é visto como algo pesado e chato, pois o interesse privado costuma predominar sobre o interesse coletivo. Isso é facilmente verificado em nossas elites econômicas, que imaginam o Estado para si e não para o bem comum; daí a raiz no Brasil do discurso do “sabe com quem você está falando?”, a maioria dos médicos se enquadram, infelizmente, nesta perspectiva. Poderiam seguir o exemplo dos profissionais da medicina do Reino Unido e Suécia, países cujos jovens recém-saídos das universidades de medicina precisam cumprir um período de treinamento remunerado no setor público. Detalhe: essa remuneração representa 30% que os médicos brasileiros vão receber no programa! Lá isso é necessário antes de receberem a licença para exercer a profissão. Para os britânicos, por exemplo, são obrigatórios dois anos de treinamento em hospitais públicos, após o período da universidade.
Para finalizar. Há um provérbio africano que diz: “um povo sem história é como árvore sem raiz”, pois bem, é muito importante termos conhecimento dos discursos para não cairmos em certas armadilhas ideológicas e não nos tornarmos reféns de aparências.

PT PREPARA O PROGRAMA CARAVANA DA ESPERANÇA TO

Direção Estadual do PT debate sobre preparativos para Caravana
A direção estadual do partido dos trabalhadores esteve reunida na noite desta terça-feira, 23, para finalizar os preparativos da caravana que vai percorrer o Estado para dialogar com a população que vive nos 139 municípios, conhecer a realidade local e propor soluções em parceria com a comunidade.
O Presidente Estadual do PT, Donizeti Nogueira, destacou que “esta caravana é importante para proporcionar aos dirigentes e companheiros que vão participar como candidatos do pleito em 2014, conhecer as necessidades e potencialidades de cada região, construindo um projeto popular e democrático por meio do diálogo com o povo”.
Na ocasião o Secretário Municipal de Saúde de Palmas, Nicolau Esteves, ressaltou que o Tocantins é um Estado com muitas potencialidades que precisam ser mais bem desenvolvidas “esta caravana vai permitir o contato direto com a população e estimular o debate e o consenso na construção de um projeto de gestão e desenvolvimento para o Tocantins”.
Uma nova reunião deve ser organizada pela direção estadual do PT ainda em agosto deste ano para aprovar a metodologia da caravana, e também, preparar o lançamento desta atividade política.
Participaram da reunião o prefeito de Colinas José Santana, o prefeito de Aliança do Tocantins José Rodrigues, o prefeito de Esperantina Albertino Sousa, o presidente da Câmara Municipal de Gurupi vereador Cabo Carlos, representantes de sindicatos e movimentos sociais. 

7.16.2013

Lula no NY Times: uma mensagem aos jovens


Seria mais fácil explicar esses protestos quando ocorrem em países não-democráticos, como no Egito e na Tunísia em 2011, ou em países onde a crise econômica aumentou o número de jovens e trabalhadores desempregados a níveis assustadores, como na Espanha e na Grécia, do que quando surgem em países com governos democráticos populares – como o Brasil, onde nos beneficiamos atualmente de uma das mais baixas taxas de desemprego de nossa História e uma expansão sem paralelo dos direitos econômicos e sociais.

Muitos analistas atribuem os protestos recentes a uma rejeição da política. Eu acho que é precisamente o oposto: eles apontam no sentido de ampliar o alcance da democracia e incentivar as pessoas a tomar parte mais plenamente (da democracia).

Eu só posso falar com autoridade sobre o meu país, Brasil, onde eu acho que as manifestações são em grande parte o resultado de sucessos sociais, econômicos e políticos. Na última década, o Brasil duplicou o número de estudantes universitários, muitos vindos de famílias pobres. Nós reduzimos fortemente a pobreza e a desigualdade. Estas são conquistas importantes; no entanto, é perfeitamente natural que os jovens, especialmente aqueles que obtiveram o que seus pais nunca tiveram, desejem mais.

Esses jovens não viveram a repressão da ditadura militar de 1960 e 1970. Eles não viveram a inflação da década de 1980, quando a primeira coisa que fazíamos quando recebíamos o nosso contracheques era correr para o supermercado e comprar o que fosse possível, antes que os preços subissem novamente no dia seguinte. Eles se lembram muito pouco da década de 1990, quando estagnação e o desemprego deprimiam nosso país. Eles querem mais.

É compreensível que seja assim. Eles querem serviços públicos de melhor qualidade. Milhões de brasileiros, incluindo os da classe média emergente, compraram seu primeiro carro e começaram  a viajar de avião. Agora, o transporte público tem que ser eficiente, para tornar a vida nas grandes cidades menos difícil.

As preocupações dos jovens não são apenas materiais. Eles querem mais acesso ao lazer e a atividades culturais. Acima de tudo, eles exigem instituições políticas mais limpas e mais transparentes, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico do Brasil, que,  recentemente, se mostraram incapazes de se reformar. Não se pode negar a legitimidade dessas demandas, mesmo que seja impossível alcançá-las rapidamente. É necessário, primeiro, encontrar fundos, fixar objetivos e estabelecer prazos.

Democracia não faz acordo com o silencio. Uma sociedade democrática está sempre em fluxo, a debater e definir prioridades e desafios, em constante busca de novas conquistas. Só numa democracia um índio poderia ser eleito presidente da Bolívia, um afro-americano ser eleito presidente dos Estados Unidos. Só numa democracia, pela primeira vez, um metalúrgico e, em seguida, uma mulher poderiam ser eleitos presidente do Brasil.

A História mostra que, quando os partidos políticos são silenciados e as soluções são impostas  pela força, os resultados são desastrosos: guerras,  ditaduras e a perseguição das minorias. Sem partidos políticos não pode haver nenhuma democracia verdadeira. Mas as pessoas não desejam simplesmente votar a cada quatro anos. Elas querem interação diária com os governos locais e nacionais, e participar da definição de políticas públicas, oferecer opiniões sobre as decisões que as afetam no dia a dia.

Em resumo, elas querem ser ouvidas. Isso é um enorme desafio para os líderes políticos. Isso requer melhores formas de participação, através dos meios de comunicação social, no local de trabalho e nas universidades, para reforçar a interação com trabalhadores e  líderes comunitários, mas, também, com os chamados setores desorganizadas, cujos desejos e necessidades não devem ser menos respeitados porque não tem organização.

Diz-se, e com razão, que a sociedade entrou na era digital e a política permaneceu analógica. Se as instituições democráticas utilizassem as novas tecnologias de comunicação como instrumento de diálogo e não, apenas, para propaganda, elas passariam a respirar ar mais fresco. E com isso estariam mais em sintonia com toda a sociedade.

Mesmo o Partido dos Trabalhadores, que eu ajudei a fundar, e que tem contribuído para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa aprofundar a renovação. Precisa recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens paternalisticamente.

A boa notícia é que os jovens não são conformistas, apáticos ou indiferentes à vida pública. Mesmo aqueles que pensam odiar  a política estão começando a participar. Quando eu tinha a idade deles, eu nunca imaginei que iria me tornar um militante político. No entanto, criamos um partido político quando descobrimos que o Congresso Nacional praticamente não tinha representantes da classe trabalhadora. Através da política conseguimos restaurar a democracia, consolidar a estabilidade econômica e criar milhões de empregos.

Claramente ainda há muito a fazer. É uma boa notícia que os nossos os jovens queiram lutar para que a mudança social siga em um ritmo mais intenso.

A outra boa notícia é que o presidenta Dilma Rousseff propôs um plebiscito para promover  as reformas políticas tão necessárias. Ela também propôs um compromisso nacional para a Educação, a Saúde e o Transporte Público, em que o Governo Federal dará apoio financeiro e técnico substancial a Estados e Municípios.

Quando falo com jovens líderes no Brasil e em outros lugares eu gosto de dizer: mesmo se você perder a esperança em tudo e em todos, não dê as costas à Política. Participe! Se você não encontrar nos outros o político que você procura, você pode encontrá-lo ou encontrá-la em você mesmo.

Luis Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil e agora trabalha em iniciativas globais, no Instituto Lula.

(Tradução de Murilo Silva e Paulo Henrique Amorim)

7.06.2013

Analise de Conjutura

Governo reafirma intenção de fazer reforma política já para 2014:O governo da presidenta Dilma, através do ministro José Eduardo Cardoso e do vice presidente Miche Temer, reafirmaram ontem a intenção de realizar o plebiscito para a reforma política ainda este ano, com efeitos que passem a valer para as eleições do ano que vem. Para viabilizar tal proposta, o congresso precisaria aprovar leis que traduzissem os desejos populares expressos no plebiscito até o dia 05 de outro, sendo que o TSE pediu 70 dias para organizar o plebiscito, incluindo o prazo necessário para o debate das propostas e o esclarecimento acerca das questões.
Comentário: A realização do plebiscito ainda divide a base aliada no Congresso Nacional, que resiste a possibilidade de aprovação expressa de uma reforma política que não tenha sido elaborada pelo Congresso Nacional. A possibilidade de o plebiscito só valer para eleições após 2014 não é bem vista pelo Planalto, dado que contradiz a vontade expressa nas ruas de mudanças rápidas, particularmente a respeito das formas de organização política e partidária.
IPCA de junho desacelera, ficando abaixo das expectativas do mercado: A inflação calculada pelo IPCA no mês de junho subiu 0,26%, ante crescimento de 0,37% em maio, apontando uma desaceleração no período. O índice ficou abaixo da expectativa média do mercado (0,33%), mas foi superior ao verificado em junho de 2012, quando a inflação cresceu apenas 0,06%. Por este motivo, o acumulado de 12 meses do IPCA aumentou para 6,7%, passando em 0,2% o teto da meta de inflação para o ano-calendário de 2013. A desaceleração verificada no IPCA esta ligada a queda no preço dos alimentos no período, que desacelerou de 0,31% em maio para 0,04% em junho.
Comentário: A inflação no período recente vem arrefecendo dado a desaceleração no preço dos alimentos, assim como uma certa desaceleração no mercado de trabalho, que está se refletindo no crescimento de reajustes salariais menores do que a inflação. Esta queda na inflação pode perdurar, caso o crescimento econômico se confirme menor do que o esperado no início do ano (hoje em dia, já se espera que o crescimento em 2013 seja na casa de 2% a 2,5%) e o repasse inflacionário da desvalorização cambial não se transfira fortemente para os preços.
Mantega afirma que que corte de gastos será menor que R$ 15 bi: O ministro da fazenda Guido Mantega afirmou hoje que o corte de gastos federais que será anunciado em breve como parte da política de combate à inflação não deverá alcançar R$ 15 bilhões. Neste corte, serão preservados os investimentos públicos e os gastos sociais, sendo abatidos os gastos de custeio da máquina pública. Com este ajuste, espera-se cumprir integralmente a meta fiscal primária (já com os devidos abatimentos legais) de 2,3% do PIB ao final do ano.
Comentário: O esforço fiscal adicional que será anunciado em breve serve como uma resposta aos críticos da política econômica do governo, que está sendo sistematicamente acusado de “manipular” os resultados fiscais e ampliar os gastos públicos, promovendo novas pressões inflacionárias. Estas acusações são descabidas em um momento de crescimento baixo e diminuição da demanda privada, que contribui para o baixo crescimento. É fundamental que os novos cortes não atinjam os investimentos e, ao mesmo tempo que preservem as metas fiscais perseguidas pelo governo, permitam que o gasto público substitua a demanda privada quando necessário.

7.05.2013

Nota da Comissão Executiva Nacional do PT

 
A Comissão Executiva Nacional do PT, reunida em 4 de julho de 2013 em Brasília/DF, para avaliar a situação política nacional e o resultado das manifestações populares e da juventude que ainda estão em curso em todo o país.
SAÚDA
• o caráter progressista que se consolidou no rumo das manifestações em curso, com suas reivindicações políticas, econômicas e sociais profundamente identificadas com a trajetória e programa do Partido dos Trabalhadores e das forças que se uniram para governar o Brasil sob a condução da Presidenta Dilma
• a pronta disposição democrática da Presidenta Dilma, líder de uma das maiores democracias do planeta e a única, entre tantos Chefes de Estado que tiveram suas ruas tomadas por manifestantes populares e da juventude, a abrir o diálogo com estes e a responder de forma concreta aos seus justos clamores pelo aprofundamento das mudanças que o País vive nos últimos dez anos
• a iniciativa política do Governo de construir, com os movimentos sociais, o Congresso Nacional, o Poder Judiciário e as forças políticas democráticas uma agenda de alto nível sobre o presente e o futuro do Brasil, consubstanciada nos Pactos anunciados pela Presidenta Dilma e numa agenda legislativa há muito reclamada pela Nação
• a tramitação de importantes legislações constantes desta agenda nacional, entre elas a PEC do Trabalho Escravo, a destinação de recursos dos royalties do petróleo e do Fundo do Pré-Sal para a educação e a saúde, a criação do REITUP para baratear os custos das tarifas de transporte coletivo, entre outras, e a retirada de cena de projetos reclamados pela população, como a chamada "cura gay".
• a entrada em debate de importantes matérias como o Estatuto da Juventude, o PL 4.471 (autos de resistência) e a criminalização dos corruptores em projeto de lei apresentado pelo Presidente Lula, bem como a adoção de medidas que visam ressarcir os cofres públicos dos prejuízos por estes causados à sociedade, que esperamos sejam aprovados no curto prazo. O PT se posiciona ainda contra a PEC 215, que visa transferir do Executivo para o Legislativo a demarcação de terras indígenas.
• a construção de crescente unidade na esquerda política, partidária e social da necessidade urgente de aprovação de uma verdadeira Reforma Política com Participação Popular e de um Plebiscito Nacional sobre os eixos fundamentais dessa reforma, pela qual há anos o PT e os movimentos sociais lutam no Congresso Nacional.
MANIFESTA
• o compromisso com a agenda de reformas democráticas e populares que podem dar sustentação política, econômica e social às respostas que vêm sendo dadas aos justos reclamos da população no que diz respeito à qualidade dos serviços públicos e consolidação da inclusão social de amplas maiorias.
• entre estas, o compromisso com uma Reforma Tributária que busque nas grandes fortunas e rendas de uma minoria os recursos que permitam a diminuição da carga tributária sobre a produção, a renda e o trabalho das amplas maiorias do pais.
• a convicção de que os mecanismos constitucionais e legais existentes para uma Reforma Urbana podem e devem ser utilizados para que as atuais políticas públicas de moradia, saneamento básico e mobilidade urbana estejam integradas com a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida das nossas cidades
• o chamamento à imediata aprovação do marco civil da Internet pelo Congresso, garantindo os direitos de 80 milhões de internautas brasileiros e ampliando as potencialidades de toda comunicação em rede, tão utilizadas nas recentes manifestações em todo o país.
• a luta pela regulamentação dos dispositivos constitucionais que normatizam as comunicações do Brasil, tal como proposto pelo Fórum Nacional da Democratização da Comunicação, cujo abaixo-assinado assumimos em fevereiro.
• a defesa da imediata Reforma Política, com efeitos imediatos já para as eleições de 2014 e com resultados duradouros e estruturais definidos em uma Assembléia Constituinte Exclusiva sobre o tema da Reforma Política cuja convocação propomos seja submetida à consulta popular em Plebiscito.
ORIENTA
• as bancadas do PT na Câmara e no Senado a trabalharem pela coesão da base aliada da Presidenta Dilma no Congresso para a convocação no mais curto prazo do Plebiscito Nacional pela Reforma Política, priorizando entre os quesitos a serem incluídos na consulta popular os eixos de nosso Projeto de Lei de Iniciativa Popular: financiamento público exclusivo de campanhas; sistema proporcional com voto em lista partidária pré-ordenada e paridade de gênero; a ampliação da participação popular e dos mecanismos de democracia participativa já existentes; e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para a Reforma Política.
CONCLAMA
• a militância do PT a continuar colhendo assinaturas para o nosso projeto de iniciativa popular, ombro a ombro com outras iniciativas da sociedade civil que caminham no mesmo sentido (como a Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma Política, o MCCE, a OAB, a CNBB, entre outras valorosas instituições), intensificando o ritmo da coleta de assinaturas para que incidam positivamente no debate no Congresso Nacional sobre o tema.
• a militância petista nos movimentos sociais a que assumam decididamente a participação nas manifestações de rua em todo o país, em particular no Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações convocada por ampla coalizão de centrais sindicais e movimentos populares para o próximo dia 11 de julho, em defesa da pauta da classe trabalhadora para o país e da Reforma Política com Participação Popular.
• os partidos democráticos e populares, centrais sindicais e movimentos sociais que vêm se articulando de forma importante ao longo das últimas semanas para colocar na rua a pauta das transformações sociais do país que sempre nos unificou a debater a reconstituição do Fórum Nacional de Lutas como espaço de diálogo permanente, construção de unidade e articulação de lutas sociais e institucionais.
• os filiados e filiadas ao Partido dos Trabalhadores em todo o Brasil para que intensifiquem os preparativos para um grande Processo de Eleições Diretas (PED) a ser realizado entre os meses de julho e novembro, com ampla mobilização e empenho no debate político dos temas de nosso V Congresso do PT, de modo a demonstrar a toda a sociedade brasileira que nossas bandeiras de democratização e participação popular em nosso projeto de Reforma podem e serão vividas nas relações internas do PT, construindo e fortalecendo nossa unidade de ação.
e CONVOCA
+ Reunião do Diretório Nacional do PT para o dia 20 de Julho.
Reforma Política com Participação Popular
Plebiscito Já
Eleições de 2014 regidas pelas novas regras da Reforma Política
Todo apoio ao Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações de 11 de Julho
Brasília, 04 de julho de 2013.
Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores

--
Atenciosamente,
Assessoria de Comunicação Partido dos Trabalhadores do Tocantins

Diretório Estadual do PT
Telefone: 3224 3220
Endereço: Quadra 110 Sul Al 03 Lote 40/42
www.pttocantins.org.br
twitter: @pttocantins

7.02.2013

Pesquisas Datafolha; muita calma nessa hora


Recentes pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, sobre popularidade do governo federal e intenções de voto para 2014, assanham a direita e tiram o ar de setores da esquerda. Os números parecem dizer, a julgar por algumas manchetes e análises, que o país caminha para encerrar o ciclo de reformas iniciado em 2003. Mas recomenda-se cautela ao interpretar esses levantamentos, antes de bailar o carnaval ou vestir-se de luto.
Por Breno Altman*, no Brasil 247


O fato mais relevante é a queda de popularidade da presidente Dilma. O índice de eleitores que consideravam sua administração ótima ou boa cravou os 65% no final de março, baixou para 57% no início de junho e despencou para 30% após a escalada de protestos. O número de seus eleitores potenciais acompanhou a curva: 58%, 51% e 30%.

A má notícia para petistas e aliados é inegável, pois saltou de banda praticamente metade do apoio e eleitorado da titular do Planalto. Cometerá sério erro, no entanto, quem enxergar isoladamente esse dado estatístico. Não apenas pela natureza fotográfica e momentânea de pesquisas, mas também por conta de outros registros disponíveis nas mesmas enquetes.

O primeiro deles é que o bloco de confiança, agregando a classificação regular aos julgamentos francamente positivos, deteriorou-se em ritmo mais baixo. Situava-se em 93% no pico, manteve-se no início de junho (90%) e caiu agora para 73%. Enquanto o grupo superior perdeu 53,85% de seus adeptos em três meses, a faixa que abarca também o nível intermediário foi reduzida em 21,50%.

Ou seja, apesar do tsunami político, a reversão nas avaliações não levou a uma maioria antagônica ao governo, ainda que haja riscos reais e imediatos. Os descolamentos atuais estão situados em um campo em disputa, no qual o governo e o PT podem encontrar audiência e recuperar terreno.

Esta mesma tendência se aplica à intenção de votos em Dilma. No cenário mais provável para 2014, com quatro candidatos (a atual presidente, Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos), a petista perdeu 21 pontos em relação à última pesquisa, mas 12 desses pontos migraram para o grupo de votos indefinidos, brancos ou nulos. Os candidatos de oposição cresceram, é fato, mas absorvendo menos da metade do que Dilma perdeu.

Trata-se de ponto relevante que a chefe da Rede tenha sido a candidata mais beneficiada, crescendo de 16 para 23% — enquanto o representante tucano ganhou somente três pontos (de 14 para 17%) e o governador pernambucano praticamente patina na mesma posição (foi de 6 para 7%). Marina Silva, afinal, é desaguadouro natural e instável para eleitores desgostosos com o PT que não pretendem migrar para a direita.

Mesmo quando Joaquim Barbosa entra na parada, o quadro não muda de forma expressiva, ainda que promova relativa desidratação dos demais candidatos contra o oficialismo (Marina baixa a 19%, Aécio a 14% e Campos a 4%). A soma dos candidatos oposicionistas sobe de 47 para 53%, com o segmento de indefinidos, brancos e nulos descendo de 24 para 19%, enquanto Dilma fica praticamente na mesma, caindo de 30 para 29%.

Deve-se ressaltar que momentos de politização da sociedade alteram a lógica de alinhamento do eleitorado. Quando o cenário do país desenvolve-se sem solavancos, é comum haver certa simpatia administrativa até de quem não votou e sequer votaria no partido de plantão. Mas quando há clima de polarização, a tendência de confluência entre apoios e opção ideológica se afirma.

Os 30% de Dilma nas pesquisas representam o núcleo duro do eleitorado petista e de esquerda, contra outros tantos (simpáticos a Aécio e, em parte, a Marina ou Joaquim Barbosa) que são fiéis do conservadorismo, enquanto os setores oscilantes representam ao redor de 40% dos eleitores. Não houve, a julgar pelo Datafolha, significativo crescimento da direita, mas perda importante de gordura governista a favor da zona nebulosa na qual estão tanto votos indecisos, nulos e brancos quanto candidatos que exibem perfil alternativo aos partidos tradicionais.

O segundo tema de relevo está no desempenho do ex-presidente Lula caso fosse candidato em 2014. Alcança 45% das preferências, contra 43% de todos adversários somados (Marina faria 14%, Barbosa bateria em 13%, Aécio não ultrapassaria 12% e Campos estacionaria em 4%). Também recuam indecisos, nulos e brancos, para 13%. Apesar da queda de 10% em relação à última pesquisa, o desempenho do líder petista revela importantes reservas de força a favor da esquerda.

Esta performance também confirma que as características dos protestos no Brasil são bastante distintas de seus congêneres europeus ou árabes. A memória majoritária sobre os dez anos de governo progressista é positiva, especialmente entre os pobres da cidade e do campo, e profundamente identificada com o ex-presidente. O país viveu ciclo de melhoria paulatina da economia e das condições de vida e renda entre as camadas populares, que mantém sua lealdade ao projeto liderado pelo PT.

Os sucessos deste processo, associados a suas limitações, trouxeram novas contradições, e esse é um terceiro elemento central de análise. O desemprego é o principal problema nacional para apenas 4% dos entrevistados pelo Datafolha, por exemplo. Baixos salários sequer constam das inquietações principais. Tampouco inflação. Mas a oferta dos principais serviços públicos deixa 71% dos brasileiros insatisfeitos – 48% reclamam da saúde, 13% da educação e 10% da segurança, em respostas únicas e espontâneas.

Pode-se concluir que a ascensão socioeconômica retirou algumas dezenas de milhões da plataforma de reivindicações para a sobrevivência e os colocou no rumo de exigências por melhor qualidade de vida, fenômeno que rebate diretamente no desempenho do poder público. Há perda paulatina na confiança de que essas demandas possam ser atendidas por um sistema político que parece contaminado por interesses corporativos e privatistas.

O aumento no preço das tarifas de transporte público e o custo das obras destinadas à Copa, potencializados pela repressão policial nos estados, aparecem como gatilhos para a conversão desta insatisfação em mobilização, que abraça temas concretos e conflui como questionamento generalizado ao arcabouço institucional construído pela transição conservadora à democracia.

O PT acumulou forças fora deste sistema, como seu crítico mais duro e contumaz, ainda que tenha sempre operado pelas regras constitucionalmente vigentes. Ao conquistar o governo, em minoria parlamentar, seus dirigentes consideraram que não havia forças para mudar essas instituições e conduziram reformas em seu âmbito. A explosão da crise de junho, nessas circunstâncias, atinge o partido e o conjunto da esquerda como integrantes de um edifício político corroído por cupins famintos, na percepção das ruas.

Por fim, um quarto componente das pesquisas convalida o tipo que crise que o país atravessa: 68% dos entrevistados apoiam o plebiscito para reforma política e 73% seriam favoráveis à convocação de uma constituinte (o que eventualmente revela recuo precipitado do governo sobre esse tema). Ao contrário do que manifestam correntes de direita, dentro e fora das legendas oposicionistas, a maioria dos eleitores aplaude uma solução política de grande amplitude para os dilemas atuais.

Esta inclinação do eleitorado talvez traga a chave de compreensão para a esquerda refazer sua estratégia e recuperar o terreno perdido. As ruas querem mais reformas e maior velocidade nas mudanças. Parte da cidadania, aquela de orientação progressista, condena o PT e seu governo por terem ficado parecidos demais, próximos demais, com os grupos econômicos e políticos que sempre combateram.

A resposta às mobilizações e aos resultados das pesquisas não parece ser uma questão técnica, de gestão, mas um rumo político. Uma nova agenda que aprofunde o processo iniciado em 2003, a começar pela radicalização da democracia. O confronto de programas, o reforço da identidade de esquerda e a defesa abnegada dos interesses populares contra a plutocracia podem ser o melhor caminho de reencontro com a base social momentaneamente perdida.

Uma visão tradicionalista, de que os 40% perambulando entre o PT e a oposição de direita constituem um "centro", a ser disputado com maior eficácia administrativa (ainda que necessária) e mais moderação tanto na política quanto na economia, tem boas chances de ser desastroso tiro no pé.

* Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samue

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=217544&id_secao=1

 

Arquivo das materias