5.13.2018

Segundo domingo de maio, dia 13, uma data marcante. Dias das mães e da abolição da escravatura.


Mãe Ana, parteira de aproximadamente 300 crianças
Arte em terra ronca, exposta no Palacinho Palmas em
que uma mãe negra expressa toda sua agonia.

      Sendo domingo, 13 de maio de 2018, uma data marcante no calendário nacional, dias das MÃES que coincide com uma data simbólica para a comunidade negra, que marca os 130 anos da edição da “ABOLIÇÃO” a partir da Lei Áurea composta por um único artigo, começou um longo período de martírio dos afrodescendentes, que já permeia o século XXI. Então, resolvi escrever esse artigo traçando um paralelo reflexivo entre a história da Parteira “MÃE ANA”, chamada de mãe por muitos, trajetória que confunde com a história da população negra no município.
 Com a famosa “abolição” e sem nenhuma política de reparação aos danos físicos (em todos os sentidos) e simbólicos causados a esse povo, aos poucos eles foram sendo empurrados para as periferias das cidades e as margens da sociedade, dano inicio as favelas e aos grupos de “marginais” que explicaria toda a mazela social dos novos tempos. Vendidos como animais, homens e mulheres eram separados de seus irmãos, esposas, esposos e filhos, além disso, sem terras para produzir seu próprio sustento, sem acesso ao ensino publico gratuito, excluídos dos serviços de assistência básica como saúde, moradia e saneamento básico, o negro foi engolido por um processo de marginalização sem volta, que contribui ainda mais, para o que o geógrafo Milton Santo chama de apartheid a brasileira. Por esses e outros motivos se faz necessário outro tipo de abolição, com base em processos históricos de reparação e afirmação, com menos retórica.
Aqui em Conceição do Tocantins que tem sua fundação vinculado ao garimpo, com uma população de aproximadamente composta por 80% de afrodescendentes, mães com “MÃE ANA” suas irmãs Clementina Golçalves, conhecida como Tia Quelé e Cândida Gonçalves, conhecida como Candoxa, entre muitas outras mães, todas descendentes de escravos,  sustentaram sues filhos a partir do garimpo do ouro manual, com instrumento de madeira chamado de “batei”.
   Nenhuma sociedade do mundo deixou uma etnia quase 400 anos escravizada, com exceção do Brasil. Ainda hoje, essa atrocidade do passado nacional reflete na vida contemporânea da sociedade brasileira, que não consegue se livrar dessa pratica perversa que incide no destino, sobretudo das mulheres que são mães. Apesar de ser um marco legal e representar uma data importante para se reforçar a luta pelos direitos da população, muitas pessoas e entidades ligadas a essa causa não comemoram a passagem, por considerar que há muitos desafios e que estamos longe do ideal.
      No Brasil, onde os negros representam quase a metade da população, chegando a 80 milhões de pessoas, o racismo ainda é um tema delicado. As novas gerações já têm uma visão mais aberta em relação ao tema, às pessoas vêm mudando seu comportamento, mas o que falta evoluir são as ações governamentais, para promover a cultura negra em todos os seus aspectos e as políticas de auto-afirmação e reparação de direitos negados.  
Ana Gonçalves de Cirqueira, mais conhecida como “Mãe Ana”, parteira, nascida em 12 de abril de 1928 e falecida em 04 de outubro de 2016, foi um exemplo de vida para os seus familiares, para as atuais e futuras gerações, sua memória sempre será um orgulho para o município de Conceição do Tocantins. 
Difícil expressar toda minha gratidão e reconhecimento àquele que me trouxe a luz do mundo por suas mãos. Pois bem, sobre “Mãe Ana”, quero trazer sempre viva sua memória, por isso, vou fazer um breve relato sobre sua historia, para que os interessados possam aprofundar sua curiosidade e guardem para sempre esse exemplo de vida e dedicação ao próximo. 
Ela foi PARTEIRA, num tempo em que as condições de saúde eram precárias, ou seja, nem mesmo existia acesso ao atendimento básico, os partos eram feitos por parteiras, que colocavam seu conhecimento popular e suas experiências a serviços das gestantes, esse trabalho ia muito além do parto, faziam um verdadeiro acompanhamento, uma espécie de pré-natal, haja vista, que ainda não dispunha de equipamentos médicos em localidades como o norte de Goiás.
Eram muitas as mulheres que realizavam esse trabalho, pois no caso de Ana Gonçalves, essa pessoa abençoada, que trouxe muitas crianças para a vida, tem uma peculiaridade, segundo ela, foram aproximadamente 300 partos, pessoas que viram pela primeira vez a luz de nosso tempo por suas mãos.. Naquelas circunstâncias em que muitas mães e crianças morriam no parto, em função da ausência de um exame mais detalhado para verificar as condições e posição do bebê, ela não perdeu uma só vida durante o trabalho de parto. Entre as diversas pessoas veio ao mundo graças a esse dom, estão professores, enfermeiras, personalidades diversas no município, inclusive este que escreve esta matéria.
PORTANTO, APÓS ABRAÇAR MINHA MÃE, QUERO PARABENIZAR TODAS AS MÃES.

8.07.2017

Conceição do Tocantins: 277 anos de História e 55 de Emancipação.









 Conhecer a história não é apenas estudar o passado divorciado do presente, mas localizar e analisar fatos e dados que contribuam para a formação da identidade sociocultural de uma comunidade.
Nesse 277 anos de fundação e 55 de emancipação política  o objetivo desse artigo é mostrar um pouco da história e da cultura da cidade de Conceição do Tocantins, antiga Conceição do Norte aos seus moradores e admiradores. Região povoada por volta de 1741, sendo elevada a categoria de Vila de Nossa Senhora da Conceição em 1854, vindo conquistar sua autonomia política em 07 de agosto de 1963, quando se desmembrou do município de Dianópolis. (Rocha, 1990, p.145).
A primeira habitação desta região deve sua origem ao riquíssimo garimpo de ouro baseado no trabalho escravo. Naquele tempo Conceição possuía 70 casas, uma capela de Nossa Senhora do Rosário e a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, objeto de nosso estudo.
Contudo tornou-se de grande importância administrativa regional, chegando a sediar Comarca Judicial, Colégio Eleitoral das Cidades vizinhas, sede Regional da Guarda Imperial, bem como sede de administração eclesiástica. Como paróquia, aqui chegou a residir até quatro padres. (Povoa, 1986 p. 14).
Hoje Conceição do Tocantins possui 4.17 mil, habitantes, segundo o último Censo do IBGE. Tem como atrativo principal suas expressões culturais como o Congo, as Folias do Divino, as festas religiosas, o artesanato local e as danças rítmicas. Todos esses valores serão apresentados juntamente com um perfil histórico da IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, em forma de painel.
Objetivando fazer um estudo preliminar sobre a Igreja Matriz, com base em pesquisas bibliográficas e entrevistas com moradores locais, procuraremos abordar alguns de seus aspectos, como sua construção com base no trabalho escravo, sua influência político-econômico, época em que a Igreja exercia forte domínio no mundo, assim como sua contribuição na formação da identidade sócio-cultural do povo conceicionense.
Embora seja um estudo preliminar, daremos ênfase nesse último aspecto, realçando importante legado cultural deixado pela etnia negra. Contrariando assim muitas teorias racistas, a exemplo de SÍLVIO ROMERO, quando ele afirma: “Do consórcio da velha população latina, bastante atrasada, bestamente infecunda, e de selvagens africanos, estupidamente talhados para o trabalho escravo, surgiu, na máxima parte, este povo”.
Portanto, descentralizando nossa analise do ponto de vista europeu, observaremos neste trabalho, um grande valor cultural. Veremos que homens e mulheres de origem africana são excludentes, em seus corpos, em suas vozes, nas cores que usam em suas roupas, em sua forma de mostrar afeto, até em sua forma de fazer política. Basta ver suas diversas manifestações, contra ou a favor, eles cantam e dançam para expressar seu agrado ou desagrado.
Durante nossa abordagem esses elementos, ficarão explícitos, bem como, suas sutilezas na resistência da aculturação européia, ou seja, sua maneira sábia de se organizar contra a imposição de uma cultura dominante.

2  PERFIL POLITICO-ECONÔMICO.

2.1 Construção
Parede lateral da igreja

Segundo PÓVOA (1986), nos tempos de glória do riquíssimo garimpo dessa região, hoje cidade de Conceição do Tocantins, chegaram trabalhar cerca de 10.000 (dez mil) escravos, tanto nas minas de ouro quanto nas grandes fazendas de gado e café, esse quantitativo chega a representar o dobro da população atual segundo o ultimo censo.
Como tudo que se produzia e construía naquela época, era fruto do trabalho escravo, A CONSTRUÇÃO DA IGREJA MATRIZ não foi diferente. Foram inúmeros os negros que morreram nas escavações das minas da qual era retirado o ouro que sustentava toda prepotência de seus senhores, aproveitando as pedras para construir uma grandiosa igreja, para a época.
Ainda hoje, pode se vê ao lado da igreja restos das escavações da mina, que forneceu material para construção das paredes, que chega a medir aproximadamente 40 metros de comprimento, 7 de altura e 80 centímetros de espessura.
O fato curioso, é que até pouco tempo, antes do calçamento ao redor da igreja, era comum às pessoas encontrarem pequenas pepitas de ouro, do barro que escorria das paredes com as águas das chuvas.

2.2. Imagem de Nossa Senhora da Conceição
Essas relíquias sempre fizeram parte da cultura e da crença popular dos moradores locais. Na igreja matriz, além da imagem de N.S. da Conceição, possuía outras imagens todas de madeiras, que segundo os moradores tinham seu interior oco e recheado de ouro.
A imagem da Santa Padroeira foi doada pelo CEL. FULGÊNCIO DA SILVA GUEDES,
Comandante Regional da Guarda Imperial, e foi trazida de Barreiras-BA, em lombo de “mulas”, que era sempre acompanhada por uma comitiva, que na chegada foi recebida com grande festividade.
O fato curioso, segundo relato de moradores da cidade, foi que o animal utilizado no transporte, recebeu uma espécie de alforria, isentando-o de qualquer tipo de trabalho até os últimos dias de vida.

2.3  O Sino
O sino da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição é feito de ferro e segundo os moradores mais velhos do local, ele foi trazido de SÃO DISIDÉRIO – BA, em lombo de mulas acompanhado de uma grande comitiva, visto que naquele tempo, o único tipo de transporte era através de animais.
Segundo VYGOSTSKY, os signos e os instrumentos exercem importante função de mediação do homem com o meio em que vive. Ha exemplo de outras cidades históricas, o sino em Conceição tem uma função comunicativa, onde quase todos os moradores sabem diferenciar suas batidas, que comunica e informa desde uma data comemorativa, notas de falecimento, missa e outros eventos.
Ficando assim evidente seu caráter histórico e social. Como fator histórico preexiste aos indivíduos e é passível a mudanças, que se desenvolve ao longo do processo, tomando outras formas de representação. Como fator social, é de uso de todo grupo e não apenas de um indivíduo, criando assim formas culturais e sistemas simbólicos de comunicação.
Como marca da influência da cultura européia, o sino conta das seguintes inscrições em Latim, bem como as iniciais de seu fabricante: “SIGNUN CRUCIS VENITE, ADOREMOS ECDE”. FEITO POR O.D.F. EM 1880.


3 – INFLUÊNCIAS POLÍTICA DA IGREJA
Casarão antigo, que abrigou sede administrativa e educacional.

Como toda a Igreja Católica na época, a Matriz Nossa Senhora da Conceição exerceu forte influência político-econômica e na formação sócio-cultural do povo conceicionense, nos séculos XIX e XX.
Até bem pouco tempo, os limites entre os municípios vizinhos como Dianópolis, Almas, Natividade e Paranã, eram antigas demarcações feitas pela administração paroquial. Um dos exemplos são os ofícios emitidos pelo Padre JOÃO DE DEUS GUSMÃO ao Presidente da Província e ao Secretário do Bispado.
Essas delimitações administrativas também limitavam a área de comércio da cada município, mostrando assim, o poder da Igreja em geral e em especial da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Veja transcrição de documento que reforça esse aspecto.

3.1 – Documento nº 1
VILA DA CONCEIÇÃO DO NORTE, 15 DE SETEMBRO DE 1873.
Ilmoº. Revmº.sr.
”Acuso a recepção do respeitável Ofício de V. Revmº com data de 1º de julho p.p no qual acusa-me não existir na Secretaria documento algum que esclareça a respeito dos limites das freguesias de Conceição de São José do Duro, a exceção da Lei provincial de 1859, alterada pela de 1860 (?) e que diz respeito ao Distrito de Paz.
Tenho a honra de responder a V. Revm°. Que não havendo nesta freguesia esclarecimento algum que diz respeito a limites antigos e tendo eu sido provido de coadjutor desta freguesia no ano de 1843, achando-se o Vigário Geral SALVADOR ESPÍRITO SANTO CERQUEIRA paroquiano a freguesia do Duro e sendo esta também entregue para paroquiar como capela filial desta Matriz, paroquiei o Duro até ser elevado a freguesia e nunca soube de seus limites antigos e da elevação só sei destes limites que ao depois me foram determinados para paróquia pelo mesmo Vigário Geral, que administrasse os sacramentos até a beira da serra do Duro onde tenho administrado os sacramentos até o presente não achado esclarecimento de limites, só sim este em rascunho velho que o dito Vigário tinha remetido ao Exmº. Sr. Presidente da Província, o qual copiei para lhe enviar a cópia, informando-lhe das autoridades do lugar foi o que me disseram a este respeito”.

Deus Guarda V. Revm°.
Ilmo. Revmº Sr. José Ira Xavier Serra Dourada
Secretário do Bispado
O Pe. João de Deus Gusmão


3.2 – Documentos nº 2
 Ilmo Exmo Senhor



Em observância do respeitável Ofício de V. Exa. De 22 de 8br° do ano p.p tenho a honra de responder aos requisitos contidos no referido Ofício. 1° os limites dessa freguesia são ao norte a barra do Ribeirão Moleque no Manoel Alves, por este ribeirão acima até sua cabeceira, ao poente, desta em rumo direito a cabeceira do ribeirão Gameleira, por esta, abaixo até sua barra com o rio Palmas ao sul, deste ao norte rumo a direção do rio Manoel Alves, por este abaixo até a barra do Moleque já dito. Consta-me haver quem conteste esta divisão pelos ultimamente feita entre esta freguesia e a do Duro; eu, desprevenido de paixões e interesses, reflito que nenhum prejuízo ou inconveniente resulta aos habitantes daquela freguesia, essa divisão pelos limites que se acham feitas, pois em nada diminuiu a sua população, que é muito maior do que a desta: aquela tem um vasto território serra acima, com melhores cômodos para plantação, criação e mesmo mineração e por isso tem aumentado muito e continua a aumentar sua população onde só falta ordem, visto a desmoralização em que se acha e que o resultado tem sido as freqüentes desordens e assassinos aí perpretados; o que a eles a indispensável são as medidas do Exmº. Governador para policiar o povo, a fim de compreenderem a ordem social e deixarem os costumes bárbaros dos que vem para ali procurando asilo.
Este é meu pensamento a respeito dos habitantes do Duro, principiando por ter um professor de primeiras letras para instruir a mocidade que vive como selvagens: seguindo depois os mais adequados meios de animar a indústria e a lavoura para que é própria do lugar: enfim, Ilmo. Sr. Estas e outras semelhantes medidas podem fazer a prosperidade dos habitantes do Duro e não a divisão que conteste pois em nada os prejudique, parece ser pensamento de um só homem. 2º Existem duas casas do SSM° Sacramento arruinada e alugada. 3° A fábrica regida pela Lei n° 10 de 30 e junho de 1846, nada têm cobrado, senão das missas cantadas, sepulturas e cruz (?), os rendimentos não chegam para os quizamentos e o Livro acha-se em poder do fabriqueiro. 4° Nessa Matriz se fazem 6 (seis) festas anuais e nenhuma tem irmandade  nem compromisso. 5° Nesta Vila há uma capela de Nossa Senhora do Rosário, arruinada e com falta de parâmetros, com a irmandade sem compromisso e não tem bens de raiz e as poucas alfaias que existem estão em poder do Tesouro. Existem mais duas capelas filiais, uma de Nossa Senhora das Neves, num lugar denominado Príncipe, com uma casa de oração antiga, sem parâmetros; outra de Nossa Senhora do Rosário de Itaboca, também arruinada e sem parâmetros, ambas aos cuidados e poder dos moradores. Há seis cemitérios, um antigo no sítio de Taipas, outro no sítio Miradouro, ambos cercados de madeiras. Finalmente envio o quadro incluso dos batizados, óbitos e casamentos dos anos de 1850 a 1860. A população calcula-se em 2.636. Resta-lhe suplicar a V. Exa. Indulgência pela lacuna e falta que involuntariamente tenha cometido. Deus guarda V. Exa. Conceição 26 de fevereiro de 1.861.

3.3 – Cel. Fulgêncio da Silva Guedes: Uma das Expressões Políticas do Município
O Cel. Fulgência da Silva Guedes era homem de princípios rígidos, cioso de suas prerrogativas de Oficial da Guarda Imperial, cuja patente foi assinada pelo Imperador.
 “Profundamente religioso, o Cel. Fulgêncio da Silva Guedes era zelador da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Norte, onde eram sepultados os mortos antes da secularização dos cemitérios, em 1889. Ele foi uma das honrosas exceções de sepultamento dentro da Igreja, após a secularização. Numa das paredes laterais da pequena e secular igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, vê-se uma lápide com uma belíssima profissão de fé”. (Povoa, 1986).

SUA PATENTE DE CAPITÃO ERA ASSIM REGIDA
“D. Pedro por graças de Deus e unânime aclamação dos Povoa, Imperador Constitucional e Defensor perpétuo do Brasil, faço saber aos que esta minha Carta Patente virem que hei por bem nomear Fulgêncio da Silva Guedes para Capitão Quartel Mestre do Comando Superior da Guarda Nacional da Comarca  de Palma da Província de Goiás e como tal gozará de todas as honras, privilégios, isenções de franquias que diretamente lhe pertencem. Pelo que mando à autoridade competente que lhe dê posse depois de prestar o devido juramento e o deixe servir e exercitar o dito posto; aos Oficiais superiores que o tenham e reconheçam por tal honrem e estimem e a todos os seus subalternos que lhe obedeçam e guardem duas ordens, no que tocar o serviço nacional e Imperial, tão fielmente como devem e são obrigados. Em firmeza do que lhe mandei passar a presente Carta, por mim assinada, que cumprirá como ela se contém, depois de selada com o selo grande das armas do Império. Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em vinte e três de Dezembro de mil oitocentos e oitenta e dois, sexagésimo primeiro da Independência o Império. Ass. P. Imperador.
Sua influência é tão forte, que ainda hoje, seus familiares e amigos o homenageia colocando seu nome nos filhos de maneira integral. Dessas homenagens, encontra-se FULGÊNCIO DA SILVA GUEDES, falecido em julho de 1999, que participou intensamente da vida política do município, chegando a ser vice-prefeito, vereador por varias vezes e uma das pessoas que mais lutou pela continuidade cultural da cidade, entre elas a CONGADA, que é sua própria essência.

4 – ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS
4.1. Congada: Centenária Tradição Folclórica
Dança de motivação africana, o Congo é um ato popular criado por escravos, que consistia na coroação de faz de conta de um Rei negro, escolhido dentro de uma comunidade religiosa. Assim sendo, a irmandade de Nossa Senhora da Conceição tinha seu rei, a de Nossa Senhora dos Remédios em Arraias tinha o seu, bem como a irmandade de Nossa Senhora da Natividade em Natividade também.
Após a escolha do Rei, um cortejo vestido de roupas coloridas o acompanhava pelas ruas contando e dançando, até a porta da Igreja Matriz. Chegando ao local o Rei era coroado com uma coroa de latão, por um oficial de justiça o qual lhe entregava um certificado com validade de um ano. Durante esse período, ele tinha o respeito de seus súditos negros, mediando inclusive desavenças no relacionamento entre o grupo e com seus senhores.

Embora seja criada por escravos no Brasil, a presença de elementos da cultura africana é evidente. Ainda mais, quando se analisa a história da República do Congo, onde os Reis tinham o costume de viajar pelo país com uma enorme caravana, com pessoas de roupas coloridas, cantando e dançando e maneira exuberante.

Apesar de seu caráter festivo, onde os donos de escravos aproveitavam para diminuir o ímpeto de alguns inconformados, podemos retirar das congadas, de forma analógica, outro conceito. Analisando a parte dramática onde os personagens dialogam, podemos observar o retrato das lutas políticas da época pelo domínio territorial na corrida pelo ouro. Na congada de Conceição, sua parte dramática expressa as relações de poder entre as Capitanias do Pará e Maranhão, bem como suas influências no território, onde hoje situa o Estado do Tocantins.
Fica então uma interrogação; se cada irmandade tinha um rei, se cada rei tinha o respeito de seus súditos, se as dramatizações continham expressões políticas da época, não seria esse evento de faz de conta, uma estratégia política na luta contra a escravidão? Assim como a roda de capoeira, tida como uma dança negra, e que era uma verdadeira arma dos negros na luta contra o regime escravocrata.

4.2 – Festa do Divino Espírito Santo

Bandeira do Divino


A festa em homenagem ao Divino Espírito Santo, realizada anualmente no segundo domingo do mês de julho, transforma a cidade de Conceição num festival de cores. Os dançadores de CONGO com suas roupas coloridas, folclóricas e centenárias, enchem as ruas com um espetáculo de cores e sons para a entrega da CORÔA ao responsável pelo festejo do próximo ano. Os romeiros prestigiam a congada de Conceição, com seus olhares curiosos que captam momentos de ternura, cansaço e de pura alegria numa festa que prima pela profusão de tonalidade. O verde, o azul, o vermelho e o branco são cores presentes nas vestimentas dos dançadores, que se empolgam com o prazer de participar desse momento de pura magia.
Não obstante, os tantos detalhes captados pelos romeiros e a sua grande manifestação de fé, já podem observar certos aspectos de descaracterização da congada, porquanto seja uma manifestação folclórica que chegou a Conceição no séc. XIX. No transcorrer da história houve algumas transformações e perdas de fragmentos da dramatização. A título de exemplo, hoje muitos brancos integram o grupo de representantes, deixando de ser uma manifestação exclusiva de negros que reverenciam a libertação dos escravos. Frise-se, não se quer com isso, praticar qualquer discriminação, até mesmo por que as miscigenações ocorridas no Brasil transformaram os brasileiros no povo mais completo em termos culturais. Busca-se, na verdade, mostrar as variações ocorridas com a congada no transcorrer do tempo. Variações como os toques de modernidade nas vestimentas e a profunda religiosa popular que vem desde sua origem.

A coroa é o símbolo de uma festa que resiste ao tempo, está presente em todos os lugares em forma diferenciada. É ela que da à congada um sentido de realeza. O santo festejado é enaltecido ao longo dos anos, como um dos responsáveis pela libertação dos escravos, em razão do seu poder milagroso.
 NOVIDADE: Evidencia-se da forma mais orgulhosa possível, a participação de alguns conceicionenses que saíram para estudar noutras cidades e, retornam quase que exclusivamente para abrilhantarem ainda mais o evento. Registram-se presenças importantíssimas de autoridades como governantes e autoridades dos mais diversos segmentos, que tem um apreço especial pela Congada de Conceição, confirmando a importância e os valores culturais desse evento, que a nosso ver, temos a obrigação moral de cultivar e apurá-lo, buscando aproximá-lo da forma mais original possível.



 4.3 – Folia do Divino

As folias que não tem aquele sentido profano de folguedo, brigas ou confusão, são ainda hoje, em Conceição do Tocantins, uma prática em plena atualidade, convivendo mesmo com o progresso que pelos últimos anos tem chegado ao município.
Anualmente sai duas folias, cujo objetivo é o giro de 40 dias representando o período em que o Espírito Santo é arrecadar esmola para a festa do Divino no mês de julho. Sai no domingo de páscoa e percorre a maior parte do município.
A tradição manda que durante o giro, os foliões pratiquem abstinência sexual e preparem as cantigas de rodas e catiras para serem cantadas nas casas visitadas e onde a folia pernoita. Os temas usados são: a política e os acontecimentos cômicos do município, sempre em tom satírico e jocoso.
Existe o canto especial quase invariável, que são de os pedidos e agradecimento de esmola e pedido de rancho, e da despedida e agradecimento de rancho, o canto do cruzeiro e muitos outros.
Os foliões, em geral de 08 a 12, por folia, incluindo o alferes que conduz a bandeira e o caixeiro incumbido de rufar as caixas rústicas, feitas de madeira oca e pele de animal, com requintes intercalados. Quando a tarde elas vão a Igreja Nossa Senhora da conceição, as caixas repicando e o sino batendo, onde os foliões cantam na sua maneira de rezar, pedindo a benção à santa saem depois seguindo o alferes até o local do cruzeiro. Em seguida montam nos seus animais e sai para o demorado giro, cada folia para sua direção.
Foliões de uma dos ternos da folia
Nas casas onde param para o almoço (previamente escolhidas e avisadas), fazem o pedido e depois agradecem, sempre em forma de cantos. Depois podem cantar rodas e catiras, antes de prosseguirem até o local do rancho da dormida, onde é solenemente feito o pedido para pernoitarem cantando com acompanhamento da caixa, da viola e pandeiros. À noite, após o jantar, divertem os visitantes cantando rodas e catiras acompanhados de instrumentos já citados e sapateados.
Ao alvorecer os foliões são despertados pelo caixeiro ao repicar e rufar a sua caixa.
Em cada casa a folia é recebida pela família que no momento do canto ajoelha e é coberta pela bandeira conduzida pelo alferes. Às vezes, o dono da casa, pede a bandeira e percorre todas as dependências da casa, para que seja abençoado todo o cômodo da residência.
O giro se desenvolve nessa rotina até o dia da chegada, quando se verifica o encontro das folias, solenidade que conta com acompanhamento da população.
Após o canto de encontro, os alferes realizam gesticulações com as bandeiras ondulando ao vento. Estas gesticulações são denominadas venas que culminam da saudação do povo e a outra folia, ocasião em que os foliões de uma folia saúdam a bandeira da outra. Em seguida vão todos para a Igreja saudar Nossa senhora da Conceição e agradecer a proteção recebida durante o giro.
Saindo da Igreja vão para a casa do Imperador, pessoas responsáveis pela organização dos festejos e realização das folias, onde cantam o canto especial, destinado a ele, ocasião em que toda sua família se deixa encobrir pela bandeira.
Após o jantar e o canto de ação de graças, brincam até o amanhecer e depois prestam conta ao Imperador, das esmolas recebidas, que se destina ao pagamento das despesas da festa e ajudar a Igreja na manutenção de seus trabalhos. Depois da missa solene, é realizado o sorteio para a escolha do Imperador do ano seguinte, (Povoa, 1986).

 
Chapeu de couro usa pelo folião

                                           


A caixa: instrumento sonoro das folias
       
Sela: Montaria dos foliões em aninais.
Pandeiro: instrumento sonoro das folias
















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