Nesse 277 anos de fundação e 55 de emancipação política o objetivo desse artigo é mostrar um pouco da história e da cultura da cidade de Conceição do Tocantins, antiga Conceição do Norte aos seus moradores e admiradores.
Região povoada por volta de 1741, sendo elevada a categoria de Vila de Nossa
Senhora da Conceição em 1854, vindo conquistar sua autonomia política em 07 de
agosto de 1963, quando se desmembrou do município de Dianópolis. (Rocha, 1990,
p.145).
A
primeira habitação desta região deve sua origem ao riquíssimo garimpo de ouro
baseado no trabalho escravo. Naquele tempo Conceição possuía 70 casas, uma
capela de Nossa Senhora do Rosário e a Igreja Matriz Nossa Senhora da
Conceição, objeto de nosso estudo.
Contudo
tornou-se de grande importância administrativa regional, chegando a sediar
Comarca Judicial, Colégio Eleitoral das Cidades vizinhas, sede Regional da
Guarda Imperial, bem como sede de administração eclesiástica. Como paróquia,
aqui chegou a residir até quatro padres. (Povoa, 1986 p. 14).
Hoje
Conceição do Tocantins possui 4.17 mil, habitantes, segundo o último Censo do
IBGE. Tem como atrativo principal suas expressões culturais como o Congo, as
Folias do Divino, as festas religiosas, o artesanato local e as danças
rítmicas. Todos esses valores serão apresentados juntamente com um perfil
histórico da IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, em forma de painel.
Objetivando
fazer um estudo preliminar sobre a Igreja Matriz, com base em pesquisas
bibliográficas e entrevistas com moradores locais, procuraremos abordar alguns
de seus aspectos, como sua construção com base no trabalho escravo, sua
influência político-econômico, época em que a Igreja exercia forte domínio no
mundo, assim como sua contribuição na formação da identidade sócio-cultural do
povo conceicionense.
Embora
seja um estudo preliminar, daremos ênfase nesse último aspecto, realçando
importante legado cultural deixado pela etnia negra. Contrariando assim muitas
teorias racistas, a exemplo de SÍLVIO ROMERO, quando ele afirma: “Do consórcio
da velha população latina, bastante atrasada, bestamente infecunda, e de
selvagens africanos, estupidamente talhados para o trabalho escravo, surgiu, na
máxima parte, este povo”.
Portanto,
descentralizando nossa analise do ponto de vista europeu, observaremos neste
trabalho, um grande valor cultural. Veremos que homens e mulheres de origem
africana são excludentes, em seus corpos, em suas vozes, nas cores que usam em
suas roupas, em sua forma de mostrar afeto, até em sua forma de fazer política.
Basta ver suas diversas manifestações, contra ou a favor, eles cantam e dançam
para expressar seu agrado ou desagrado.
Durante
nossa abordagem esses elementos, ficarão explícitos, bem como, suas sutilezas
na resistência da aculturação européia, ou seja, sua maneira sábia de se
organizar contra a imposição de uma cultura dominante.
2 PERFIL POLITICO-ECONÔMICO.
2.1 Construção
Parede
lateral da igreja
Segundo
PÓVOA (1986), nos tempos de glória do riquíssimo garimpo dessa região, hoje
cidade de Conceição do Tocantins, chegaram trabalhar cerca de 10.000 (dez mil)
escravos, tanto nas minas de ouro quanto nas grandes fazendas de gado e café,
esse quantitativo chega a representar o dobro da população atual segundo o
ultimo censo.
Como
tudo que se produzia e construía naquela época, era fruto do trabalho escravo,
A CONSTRUÇÃO DA IGREJA MATRIZ não foi diferente. Foram inúmeros os negros que
morreram nas escavações das minas da qual era retirado o ouro que sustentava
toda prepotência de seus senhores, aproveitando as pedras para construir uma
grandiosa igreja, para a época.
Ainda
hoje, pode se vê ao lado da igreja restos das escavações da mina, que forneceu
material para construção das paredes, que chega a medir aproximadamente 40
metros de comprimento, 7 de altura e 80 centímetros de espessura.
O fato
curioso, é que até pouco tempo, antes do calçamento ao redor da igreja, era
comum às pessoas encontrarem pequenas pepitas de ouro, do barro que escorria
das paredes com as águas das chuvas.
2.2. Imagem de Nossa Senhora da
Conceição
Essas
relíquias sempre fizeram parte da cultura e da crença popular dos moradores
locais. Na igreja matriz, além da imagem de N.S. da Conceição, possuía outras
imagens todas de madeiras, que segundo os moradores tinham seu interior oco e
recheado de ouro.
A
imagem da Santa Padroeira foi doada pelo CEL. FULGÊNCIO DA SILVA GUEDES,
Comandante
Regional da Guarda Imperial, e foi trazida de Barreiras-BA, em lombo de
“mulas”, que era sempre acompanhada por uma comitiva, que na chegada foi
recebida com grande festividade.
O fato
curioso, segundo relato de moradores da cidade, foi que o animal utilizado no
transporte, recebeu uma espécie de alforria, isentando-o de qualquer tipo de
trabalho até os últimos dias de vida.
2.3 O Sino
O sino
da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição é feito de ferro e segundo os
moradores mais velhos do local, ele foi trazido de SÃO DISIDÉRIO – BA, em lombo
de mulas acompanhado de uma grande comitiva, visto que naquele tempo, o único
tipo de transporte era através de animais.
Segundo
VYGOSTSKY, os signos e os instrumentos exercem importante função de mediação do
homem com o meio em que vive. Ha exemplo de outras cidades históricas, o sino
em Conceição tem uma função comunicativa, onde quase todos os moradores sabem
diferenciar suas batidas, que comunica e informa desde uma data comemorativa,
notas de falecimento, missa e outros eventos.
Ficando
assim evidente seu caráter histórico e social. Como fator histórico preexiste
aos indivíduos e é passível a mudanças, que se desenvolve ao longo do processo,
tomando outras formas de representação. Como fator social, é de uso de todo
grupo e não apenas de um indivíduo, criando assim formas culturais e sistemas
simbólicos de comunicação.
Como
marca da influência da cultura européia, o sino conta das seguintes inscrições
em Latim, bem como as iniciais de seu fabricante: “SIGNUN CRUCIS VENITE,
ADOREMOS ECDE”. FEITO POR O.D.F. EM 1880.
3 – INFLUÊNCIAS POLÍTICA DA IGREJA
Casarão antigo, que abrigou sede
administrativa e educacional.
Como
toda a Igreja Católica na época, a Matriz Nossa Senhora da Conceição exerceu
forte influência político-econômica e na formação sócio-cultural do povo
conceicionense, nos séculos XIX e XX.
Até bem
pouco tempo, os limites entre os municípios vizinhos como Dianópolis, Almas,
Natividade e Paranã, eram antigas demarcações feitas pela administração
paroquial. Um dos exemplos são os ofícios emitidos pelo Padre JOÃO DE DEUS
GUSMÃO ao Presidente da Província e ao Secretário do Bispado.
Essas
delimitações administrativas também limitavam a área de comércio da cada
município, mostrando assim, o poder da Igreja em geral e em especial da Igreja
Matriz Nossa Senhora da Conceição. Veja transcrição de documento que reforça
esse aspecto.
3.1 – Documento nº 1
VILA DA CONCEIÇÃO DO NORTE, 15 DE
SETEMBRO DE 1873.
Ilmoº. Revmº.sr.
”Acuso
a recepção do respeitável Ofício de V. Revmº com data de 1º de julho p.p no
qual acusa-me não existir na Secretaria documento algum que esclareça a
respeito dos limites das freguesias de Conceição de São José do Duro, a exceção
da Lei provincial de 1859, alterada pela de 1860 (?) e que diz respeito ao
Distrito de Paz.
Tenho a
honra de responder a V. Revm°. Que não havendo nesta freguesia esclarecimento
algum que diz respeito a limites antigos e tendo eu sido provido de coadjutor
desta freguesia no ano de 1843, achando-se o Vigário Geral SALVADOR ESPÍRITO
SANTO CERQUEIRA paroquiano a freguesia do Duro e sendo esta também entregue
para paroquiar como capela filial desta Matriz, paroquiei o Duro até ser elevado
a freguesia e nunca soube de seus limites antigos e da elevação só sei destes
limites que ao depois me foram determinados para paróquia pelo mesmo Vigário
Geral, que administrasse os sacramentos até a beira da serra do Duro onde tenho
administrado os sacramentos até o presente não achado esclarecimento de
limites, só sim este em rascunho velho que o dito Vigário tinha remetido ao
Exmº. Sr. Presidente da Província, o qual copiei para lhe enviar a cópia,
informando-lhe das autoridades do lugar foi o que me disseram a este respeito”.
Deus Guarda
V. Revm°.
Ilmo.
Revmº Sr. José Ira Xavier Serra Dourada
Secretário
do Bispado
O Pe.
João de Deus Gusmão
3.2 – Documentos nº 2
Ilmo Exmo Senhor
Em
observância do respeitável Ofício de V. Exa. De 22 de 8br° do ano p.p tenho a
honra de responder aos requisitos contidos no referido Ofício. 1° os limites
dessa freguesia são ao norte a barra do Ribeirão Moleque no Manoel Alves, por
este ribeirão acima até sua cabeceira, ao poente, desta em rumo direito a
cabeceira do ribeirão Gameleira, por esta, abaixo até sua barra com o rio
Palmas ao sul, deste ao norte rumo a direção do rio Manoel Alves, por este
abaixo até a barra do Moleque já dito. Consta-me haver quem conteste esta
divisão pelos ultimamente feita entre esta freguesia e a do Duro; eu,
desprevenido de paixões e interesses, reflito que nenhum prejuízo ou
inconveniente resulta aos habitantes daquela freguesia, essa divisão pelos
limites que se acham feitas, pois em nada diminuiu a sua população, que é muito
maior do que a desta: aquela tem um vasto território serra acima, com melhores
cômodos para plantação, criação e mesmo mineração e por isso tem aumentado
muito e continua a aumentar sua população onde só falta ordem, visto a
desmoralização em que se acha e que o resultado tem sido as freqüentes
desordens e assassinos aí perpretados; o que a eles a indispensável são as
medidas do Exmº. Governador para policiar o povo, a fim de compreenderem a
ordem social e deixarem os costumes bárbaros dos que vem para ali procurando
asilo.
Este é
meu pensamento a respeito dos habitantes do Duro, principiando por ter um
professor de primeiras letras para instruir a mocidade que vive como selvagens:
seguindo depois os mais adequados meios de animar a indústria e a lavoura para
que é própria do lugar: enfim, Ilmo. Sr. Estas e outras semelhantes medidas
podem fazer a prosperidade dos habitantes do Duro e não a divisão que conteste
pois em nada os prejudique, parece ser pensamento de um só homem. 2º Existem
duas casas do SSM° Sacramento arruinada e alugada. 3° A fábrica regida pela Lei
n° 10 de 30 e junho de 1846, nada têm cobrado, senão das missas cantadas,
sepulturas e cruz (?), os rendimentos não chegam para os quizamentos e o Livro
acha-se em poder do fabriqueiro. 4° Nessa Matriz se fazem 6 (seis) festas
anuais e nenhuma tem irmandade nem
compromisso. 5° Nesta Vila há uma capela de Nossa Senhora do Rosário, arruinada
e com falta de parâmetros, com a irmandade sem compromisso e não tem bens de
raiz e as poucas alfaias que existem estão em poder do Tesouro. Existem mais
duas capelas filiais, uma de Nossa Senhora das Neves, num lugar denominado
Príncipe, com uma casa de oração antiga, sem parâmetros; outra de Nossa Senhora
do Rosário de Itaboca, também arruinada e sem parâmetros, ambas aos cuidados e
poder dos moradores. Há seis cemitérios, um antigo no sítio de Taipas, outro no
sítio Miradouro, ambos cercados de madeiras. Finalmente envio o quadro incluso dos
batizados, óbitos e casamentos dos anos de 1850 a 1860. A população
calcula-se em 2.636. Resta-lhe suplicar a V. Exa. Indulgência pela lacuna e
falta que involuntariamente tenha cometido. Deus guarda V. Exa. Conceição 26 de
fevereiro de 1.861.
3.3 – Cel. Fulgêncio da Silva Guedes:
Uma das Expressões Políticas do Município
O Cel. Fulgência
da Silva Guedes era homem de princípios rígidos, cioso de suas prerrogativas de
Oficial da Guarda Imperial, cuja patente foi assinada pelo Imperador.
“Profundamente religioso, o Cel. Fulgêncio da
Silva Guedes era zelador da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Norte, onde
eram sepultados os mortos antes da secularização dos cemitérios, em 1889. Ele
foi uma das honrosas exceções de sepultamento dentro da Igreja, após a
secularização. Numa das paredes laterais da pequena e secular igreja Matriz de
Nossa Senhora da Conceição, vê-se uma lápide com uma belíssima profissão de
fé”. (Povoa, 1986).
SUA PATENTE DE CAPITÃO ERA ASSIM
REGIDA
“D.
Pedro por graças de Deus e unânime aclamação dos Povoa, Imperador Constitucional
e Defensor perpétuo do Brasil, faço saber aos que esta minha Carta Patente
virem que hei por bem nomear Fulgêncio da Silva Guedes para Capitão Quartel
Mestre do Comando Superior da Guarda Nacional da Comarca de Palma da Província de Goiás e como tal
gozará de todas as honras, privilégios, isenções de franquias que diretamente
lhe pertencem. Pelo que mando à autoridade competente que lhe dê posse depois
de prestar o devido juramento e o deixe servir e exercitar o dito posto; aos
Oficiais superiores que o tenham e reconheçam por tal honrem e estimem e a
todos os seus subalternos que lhe obedeçam e guardem duas ordens, no que tocar
o serviço nacional e Imperial, tão fielmente como devem e são obrigados. Em
firmeza do que lhe mandei passar a presente Carta, por mim assinada, que
cumprirá como ela se contém, depois de selada com o selo grande das armas do
Império. Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em vinte e três de Dezembro de mil
oitocentos e oitenta e dois, sexagésimo primeiro da Independência o Império.
Ass. P. Imperador.
Sua
influência é tão forte, que ainda hoje, seus familiares e amigos o homenageia
colocando seu nome nos filhos de maneira integral. Dessas homenagens,
encontra-se FULGÊNCIO DA SILVA GUEDES, falecido em julho de 1999, que
participou intensamente da vida política do município, chegando a ser
vice-prefeito, vereador por varias vezes e uma das pessoas que mais lutou pela
continuidade cultural da cidade, entre elas a CONGADA, que é sua própria
essência.
4 – ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS
4.1. Congada: Centenária Tradição
Folclórica
Dança
de motivação africana, o Congo é um ato popular criado por escravos, que
consistia na coroação de faz de conta de um Rei negro, escolhido dentro de uma
comunidade religiosa. Assim sendo, a irmandade de Nossa Senhora da Conceição
tinha seu rei, a de Nossa Senhora dos Remédios em Arraias tinha o seu, bem como
a irmandade de Nossa Senhora da Natividade em Natividade também.
Após a
escolha do Rei, um cortejo vestido de roupas coloridas o acompanhava pelas ruas
contando e dançando, até a porta da Igreja Matriz. Chegando ao local o Rei era
coroado com uma coroa de latão, por um oficial de justiça o qual lhe entregava
um certificado com validade de um ano. Durante esse período, ele tinha o
respeito de seus súditos negros, mediando inclusive desavenças no
relacionamento entre o grupo e com seus senhores.
Embora
seja criada por escravos no Brasil, a presença de elementos da cultura africana
é evidente. Ainda mais, quando se analisa a história da República do Congo,
onde os Reis tinham o costume de viajar pelo país com uma enorme caravana, com
pessoas de roupas coloridas, cantando e dançando e maneira exuberante.
Apesar
de seu caráter festivo, onde os donos de escravos aproveitavam para diminuir o
ímpeto de alguns inconformados, podemos retirar das congadas, de forma
analógica, outro conceito. Analisando a parte dramática onde os personagens
dialogam, podemos observar o retrato das lutas políticas da época pelo domínio
territorial na corrida pelo ouro. Na congada de Conceição, sua parte dramática
expressa as relações de poder entre as Capitanias do Pará e Maranhão, bem como
suas influências no território, onde hoje situa o Estado do Tocantins.
Fica
então uma interrogação; se cada irmandade tinha um rei, se cada rei tinha o
respeito de seus súditos, se as dramatizações continham expressões políticas da
época, não seria esse evento de faz de conta, uma estratégia política na luta
contra a escravidão? Assim como a roda de capoeira, tida como uma dança negra,
e que era uma verdadeira arma dos negros na luta contra o regime escravocrata.
4.2 – Festa do Divino Espírito Santo
Bandeira do Divino |
A festa
em homenagem ao Divino Espírito Santo, realizada anualmente no segundo domingo
do mês de julho, transforma a cidade de Conceição num festival de cores. Os
dançadores de CONGO com suas roupas coloridas, folclóricas e centenárias,
enchem as ruas com um espetáculo de cores e sons para a entrega da CORÔA ao
responsável pelo festejo do próximo ano. Os romeiros prestigiam a congada de
Conceição, com seus olhares curiosos que captam momentos de ternura, cansaço e
de pura alegria numa festa que prima pela profusão de tonalidade. O verde, o
azul, o vermelho e o branco são cores presentes nas vestimentas dos dançadores,
que se empolgam com o prazer de participar desse momento de pura magia.
Não
obstante, os tantos detalhes captados pelos romeiros e a sua grande
manifestação de fé, já podem observar certos aspectos de descaracterização da
congada, porquanto seja uma manifestação folclórica que chegou a Conceição no
séc. XIX. No transcorrer da história houve algumas transformações e perdas de
fragmentos da dramatização. A título de exemplo, hoje muitos brancos integram o
grupo de representantes, deixando de ser uma manifestação exclusiva de negros
que reverenciam a libertação dos escravos. Frise-se, não se quer com isso,
praticar qualquer discriminação, até mesmo por que as miscigenações ocorridas
no Brasil transformaram os brasileiros no povo mais completo em termos
culturais. Busca-se, na verdade, mostrar as variações ocorridas com a congada
no transcorrer do tempo. Variações como os toques de modernidade nas
vestimentas e a profunda religiosa popular que vem desde sua origem.
A coroa
é o símbolo de uma festa que resiste ao tempo, está presente em todos os
lugares em forma diferenciada. É ela que da à congada um sentido de realeza. O
santo festejado é enaltecido ao longo dos anos, como um dos responsáveis pela
libertação dos escravos, em razão do seu poder milagroso.
NOVIDADE: Evidencia-se da forma mais orgulhosa
possível, a participação de alguns conceicionenses que saíram para estudar
noutras cidades e, retornam quase que exclusivamente para abrilhantarem ainda
mais o evento. Registram-se presenças importantíssimas de autoridades como
governantes e autoridades dos mais diversos segmentos, que tem um apreço
especial pela Congada de Conceição, confirmando a importância e os valores
culturais desse evento, que a nosso ver, temos a obrigação moral de cultivar e
apurá-lo, buscando aproximá-lo da forma mais original possível.
4.3 –
Folia do Divino
As
folias que não tem aquele sentido profano de folguedo, brigas ou confusão, são
ainda hoje, em Conceição do Tocantins, uma prática em plena atualidade,
convivendo mesmo com o progresso que pelos últimos anos tem chegado ao
município.
Anualmente
sai duas folias, cujo objetivo é o giro de 40 dias representando o período em
que o Espírito Santo é arrecadar esmola para a festa do Divino no mês de julho.
Sai no domingo de páscoa e percorre a maior parte do município.
A
tradição manda que durante o giro, os foliões pratiquem abstinência sexual e
preparem as cantigas de rodas e catiras para serem cantadas nas casas visitadas
e onde a folia pernoita. Os temas usados são: a política e os acontecimentos
cômicos do município, sempre em tom satírico e jocoso.
Existe
o canto especial quase invariável, que são de os pedidos e agradecimento de
esmola e pedido de rancho, e da despedida e agradecimento de rancho, o canto do
cruzeiro e muitos outros.
Os
foliões, em geral de 08 a
12, por folia, incluindo o alferes que conduz a bandeira e o caixeiro incumbido
de rufar as caixas rústicas, feitas de madeira oca e pele de animal, com
requintes intercalados. Quando a tarde elas vão a Igreja Nossa Senhora da
conceição, as caixas repicando e o sino batendo, onde os foliões cantam na sua
maneira de rezar, pedindo a benção à santa saem depois seguindo o alferes até o
local do cruzeiro. Em seguida montam nos seus animais e sai para o demorado
giro, cada folia para sua direção.
Foliões
de uma dos ternos da folia
Nas
casas onde param para o almoço (previamente escolhidas e avisadas), fazem o
pedido e depois agradecem, sempre em forma de cantos. Depois podem cantar rodas
e catiras, antes de prosseguirem até o local do rancho da dormida, onde é solenemente
feito o pedido para pernoitarem cantando com acompanhamento da caixa, da viola
e pandeiros. À noite, após o jantar, divertem os visitantes cantando rodas e
catiras acompanhados de instrumentos já citados e sapateados.
Ao
alvorecer os foliões são despertados pelo caixeiro ao repicar e rufar a sua
caixa.
Em cada
casa a folia é recebida pela família que no momento do canto ajoelha e é
coberta pela bandeira conduzida pelo alferes. Às vezes, o dono da casa, pede a
bandeira e percorre todas as dependências da casa, para que seja abençoado todo
o cômodo da residência.
O giro
se desenvolve nessa rotina até o dia da chegada, quando se verifica o encontro
das folias, solenidade que conta com acompanhamento da população.
Após o
canto de encontro, os alferes realizam gesticulações com as bandeiras ondulando
ao vento. Estas gesticulações são denominadas venas que culminam da saudação do
povo e a outra folia, ocasião em que os foliões de uma folia saúdam a bandeira
da outra. Em seguida vão todos para a Igreja saudar Nossa senhora da Conceição
e agradecer a proteção recebida durante o giro.
Saindo
da Igreja vão para a casa do Imperador, pessoas responsáveis pela organização
dos festejos e realização das folias, onde cantam o canto especial, destinado a
ele, ocasião em que toda sua família se deixa encobrir pela bandeira.
Após o
jantar e o canto de ação de graças, brincam até o amanhecer e depois prestam
conta ao Imperador, das esmolas recebidas, que se destina ao pagamento das
despesas da festa e ajudar a Igreja na manutenção de seus trabalhos. Depois da
missa solene, é realizado o sorteio para a escolha do Imperador do ano
seguinte, (Povoa, 1986).
Chapeu de couro usa pelo folião |
A caixa: instrumento sonoro das folias |
Sela: Montaria dos foliões em aninais. |
Pandeiro: instrumento sonoro das folias |
FOTOS HISTÓRICAS SEM LEGENDAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sejam críticos, mas construtivos