Região a 22 km de Conceição do
Tocantins, sentido a cidade de Paranã, fica entre o córrego Gameleirinha e a
serra da Santana, antiga fazenda São Brás, terra de meus bis avos e tios avós
que hoje foi desmembrada em varias posses. Naquele tempo as terras eram
devolutas, ou seja, as pessoas residiam e delimitavam os territórios de forma
pacífica com base em córregos, serras e até mesmo espécie de biomas florestais
conhecidos como capões,cerrados, brejos entre outros.
Para muitos talvez seja mais uma região
do município, mais para mim, esse é um espaço carregado de simbologia e que vou
compartilha um pouco aqui, pois acredito que ali estão ficadas as minhas raízes
e as bases de todas minhas convicções com sujeito histórico forjado para a
luta. Conta os mais velhos que por entre os anos de 1885 e 890, migrou-se para
a região um negro de nome BANDARRA, escravo de uma da varias famílias ricas do
município, no auge da exploração do ouro que deu origem a cidade, pois ele tinha acabado de ser beneficiado pela Lei do
Sexagenário no período da escravidão.
A Lei dos
Sexagenários, também conhecida como Lei Sararaiva-Cotegipe, foi promulgada em
28 de setembro de 1885. Essa lei concedia liberdade aos escravos com mais de 60
anos de idade. A lei beneficiou poucos escravos, pois eram raros os que
atingiam esta idade, devido a vida sofrida que levavam. Os que chegavam aos 60
anos de idade já não tinham mais condições de trabalho. Portanto, era uma lei
que acabava por beneficiar mais os proprietários, pois podiam libertar os
escravos pouco produtivos. Sem contar que a lei apresentava um artigo que
determinava que o escravo, ao atingir os 60 anos, deveria trabalhar por mais 3
anos, de forma gratuita, para seu proprietário.
Chegando
ali ele se instalou a beira de ribeirão que nasce na serra rumo ao Córrego da
Gameleirinha com aproximadamente 4 km de extensão, mas que não tinha nome,
porem com o passa do tempo ficou conhecido como córrego do Bandarra. Mais tarde
meus avos paternos mudaram-se para a mesma região fixando residência ao lado do ribeirão, que ficou
conhecida como Fazenda Bandarra. O curioso é que após um período estudando em
Jacareí-SP, ao retorna, meu pai tentou mudar o nome primeiro para Fazenda
Paulicéia, depois para Fazenda Santa Inês uma alusão ao nome de sua mãe, mas a
força da cultura falou mais alto e Bandarra resistiu ao tempo e permanece firme
e cada vez mais forte no imaginário daqueles que ali vivem.
Acredita-se
que mais tarde outros escravos se mudaram para a região, pois as características no
eterno é marcada por varias identificações da cultura, dos costumes e dos
traços genéticos do povo afro descendentes. Inclusive dentro dessa área há uma
comunidade denominada de AGUA BRANCA, que esta em processo de reconhecimento
como remanescente de quilombola, que só não avançou ainda por falta de
conhecimento das autoridades, ou mesmo, por falta de compromisso político com esse povo.
Produto
desse meio, corre em minhas veias toda sentimentalidade desse povo sofrido,
dessa raça negada, que me marca nos traços genéticos, desde a pele escura, lábios grossos, cabelos crespo, indignação com o
preconceito e com o racismo, mas
sobretudo, o orgulho de ser negro. Jamais neguei os meus e, quase que por
instinto sempre procurei mais que defender a cultura afro, busco sua promoção,
escrevendo, colaborando nos grupos de tradição com a nossa CONGADA.
Nesse
contexto, sempre serei favorável a lei de cotas, as políticas de reparação
racial e social, as ações de distribuições renda, e as medidas de afirmação e
proteção aos grupos de minorias. Encerro esse pequeno relato com a poesia de
José Bonifácio que extravasa muito bem toda
minha identidade e sentimentalidade com esse território (...). Escravo – não,
não morri nos ferros da escravidão; lá nos Palmares vivi, tenho livre o
coração! Nas minhas carnes rasgadas, nas faces ensanguentadas, sinto as
torturas de cá; meu espírito solto não partiu – ficou lá (...). #BANDARRA.
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