7.30.2013

A classe médica à brasileira

Stânio de Sousa Vieira – Sociólogo e Historiador
Estamos acompanhando as manifestações da classe médica brasileira contra a vinda dos médicos estrangeiros e contra a mudança, na proposta do Governo Federal, que busca alterar a grade curricular dos cursos de medicina para determinar que os estudantes trabalhem por dois anos em hospitais e nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), no final do curso de medicina.
Como adepto da democracia, compreendo as reivindicações da classe médica, mas entendo que tenho o direito de discordar, até porque analiso essas reivindicações como um tanto sem nexo, sobretudo do ponto de vista ético e moral.
Há cerca de três semanas atrás as manifestações espalhadas pelas ruas brasileiras tinham como uma das pautas principais a melhoria da saúde pública. Aliás, muitos desses manifestantes eram jovens médicos que também exigiam uma saúde pública de qualidade! No entanto, quando o governo federal encaminhou, por meio de medida provisória, o programa “Mais Médicos”, que tem o objetivo de aumentar o número dos médicos atuantes na rede pública de saúde em regiões carentes, e permite a vinda de profissionais estrangeiros (ou de brasileiros) observamos um posicionamento majoritário de negativas ao programa.
As acusações contrárias, majoritariamente, eram a respeito do médico estrangeiro e ao atendimento de dois anos no final do curso em hospitais e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). A partir dessa realidade comecei a analisar os discursos da classe médica sobre esses dois questionamentos, e cheguei à conclusão de que o posicionamento tinha o alcance de xenofobia e de preconceito de classe.
Por quê? Vejamos: no primeiro caso, dos médicos estrangeiros, o foco era desqualificar os médicos estrangeiros como incompetentes. Então pensei, deve ser uma questão ufanista. No entanto, os discursos foram aprofundados e sintetizaram a lógica: “somos contra os médicos estrangeiros, pois a medicina cubana, boliviana ou venezuelana não tem o mesmo gabarito da brasileira”, ou seja, não são contra os estrangeiros, mas contra alguns estrangeiros, no caso, os desses países citados. Ora, o edital do programa “Mais Médicos” é aberto para todos os estrangeiros, mas a moral da história é que esses países são pobres econômica e politicamente e divergem da lógica do capital: daí os bastidores da discórdia.
Esses mesmos médicos não citam, por exemplo, que vários médicos britânicos e suecos são adeptos da medicina preventiva cubana, pois esses países consideram a medicina de Cuba, na perspectiva de prevenção, como vanguarda mundial. O segundo ponto mais questionado é estudar os dois últimos anos em hospitais e serviços do SUS. O principal argumento é que esses hospitais não oferecem condições de trabalho para esses médicos exercerem a profissão de forma digna, todavia essa realidade dos problemas dos hospitais públicos não são de agora, então, por que a classe médica nunca se manifestou com passeatas nas ruas?
O outro argumento é que os salários são baixos, portanto não compensa trabalhar para o SUS. Então, se o SUS é tão ruim para os médicos por que os mesmos não socializam para a sociedade que as clínicas filiadas ao SUS recebem benefícios de redução tributária, inclusive nos medicamentos adquiridos? Por que não reivindicam, de forma unificada, o plano de cargos e salários para a carreira médica? Ora, isso fatalmente resultaria em teto salarial, algo que dificultaria os subsídios pomposos que ganham em vários municípios deste País.
Até que se prove o contrário, os médicos brasileiros que se inscreverem no programa “Mais Médicos”, para trabalharem vão receber uma contribuição de 10 mil reais e mais ajuda de custo para mudança de município. Para quem não sabe, esse salário é para o médico que nem mesmo concluiu a graduação, enquanto um professor universitário já doutor, em início de carreira não recebe nem perto desse valor! Moral da história: o que está em questão nessa situação é uma situação de classe social, pois para a maioria desses médicos trabalhar na periferia ou cidades afastadas de grandes núcleos urbanos é algo indesejado, pois a maioria reside em uma área urbana mais confortável. Não que os mesmos não possam ter o gozo do status, mas a carreira médica precisa privilegiar a vida, aliás, como juram os médicos em sua formatura! A prova é que esses médicos que trabalham nas cidades mais afastadas recebem a média de 20 mil reais, às vezes, para exercer a função médica, por dois dias da semana. No entanto, a maioria age com falta de urbanidade com os pacientes e demais funcionários. Então, é uma questão de dinheiro?
É apenas uma questão cultural, pois os médicos à brasileira são exemplos fiéis do Estado brasileiro, de formação autoritária, em que o serviço público é visto como algo pesado e chato, pois o interesse privado costuma predominar sobre o interesse coletivo. Isso é facilmente verificado em nossas elites econômicas, que imaginam o Estado para si e não para o bem comum; daí a raiz no Brasil do discurso do “sabe com quem você está falando?”, a maioria dos médicos se enquadram, infelizmente, nesta perspectiva. Poderiam seguir o exemplo dos profissionais da medicina do Reino Unido e Suécia, países cujos jovens recém-saídos das universidades de medicina precisam cumprir um período de treinamento remunerado no setor público. Detalhe: essa remuneração representa 30% que os médicos brasileiros vão receber no programa! Lá isso é necessário antes de receberem a licença para exercer a profissão. Para os britânicos, por exemplo, são obrigatórios dois anos de treinamento em hospitais públicos, após o período da universidade.
Para finalizar. Há um provérbio africano que diz: “um povo sem história é como árvore sem raiz”, pois bem, é muito importante termos conhecimento dos discursos para não cairmos em certas armadilhas ideológicas e não nos tornarmos reféns de aparências.

PT PREPARA O PROGRAMA CARAVANA DA ESPERANÇA TO

Direção Estadual do PT debate sobre preparativos para Caravana
A direção estadual do partido dos trabalhadores esteve reunida na noite desta terça-feira, 23, para finalizar os preparativos da caravana que vai percorrer o Estado para dialogar com a população que vive nos 139 municípios, conhecer a realidade local e propor soluções em parceria com a comunidade.
O Presidente Estadual do PT, Donizeti Nogueira, destacou que “esta caravana é importante para proporcionar aos dirigentes e companheiros que vão participar como candidatos do pleito em 2014, conhecer as necessidades e potencialidades de cada região, construindo um projeto popular e democrático por meio do diálogo com o povo”.
Na ocasião o Secretário Municipal de Saúde de Palmas, Nicolau Esteves, ressaltou que o Tocantins é um Estado com muitas potencialidades que precisam ser mais bem desenvolvidas “esta caravana vai permitir o contato direto com a população e estimular o debate e o consenso na construção de um projeto de gestão e desenvolvimento para o Tocantins”.
Uma nova reunião deve ser organizada pela direção estadual do PT ainda em agosto deste ano para aprovar a metodologia da caravana, e também, preparar o lançamento desta atividade política.
Participaram da reunião o prefeito de Colinas José Santana, o prefeito de Aliança do Tocantins José Rodrigues, o prefeito de Esperantina Albertino Sousa, o presidente da Câmara Municipal de Gurupi vereador Cabo Carlos, representantes de sindicatos e movimentos sociais. 

7.16.2013

Lula no NY Times: uma mensagem aos jovens


Seria mais fácil explicar esses protestos quando ocorrem em países não-democráticos, como no Egito e na Tunísia em 2011, ou em países onde a crise econômica aumentou o número de jovens e trabalhadores desempregados a níveis assustadores, como na Espanha e na Grécia, do que quando surgem em países com governos democráticos populares – como o Brasil, onde nos beneficiamos atualmente de uma das mais baixas taxas de desemprego de nossa História e uma expansão sem paralelo dos direitos econômicos e sociais.

Muitos analistas atribuem os protestos recentes a uma rejeição da política. Eu acho que é precisamente o oposto: eles apontam no sentido de ampliar o alcance da democracia e incentivar as pessoas a tomar parte mais plenamente (da democracia).

Eu só posso falar com autoridade sobre o meu país, Brasil, onde eu acho que as manifestações são em grande parte o resultado de sucessos sociais, econômicos e políticos. Na última década, o Brasil duplicou o número de estudantes universitários, muitos vindos de famílias pobres. Nós reduzimos fortemente a pobreza e a desigualdade. Estas são conquistas importantes; no entanto, é perfeitamente natural que os jovens, especialmente aqueles que obtiveram o que seus pais nunca tiveram, desejem mais.

Esses jovens não viveram a repressão da ditadura militar de 1960 e 1970. Eles não viveram a inflação da década de 1980, quando a primeira coisa que fazíamos quando recebíamos o nosso contracheques era correr para o supermercado e comprar o que fosse possível, antes que os preços subissem novamente no dia seguinte. Eles se lembram muito pouco da década de 1990, quando estagnação e o desemprego deprimiam nosso país. Eles querem mais.

É compreensível que seja assim. Eles querem serviços públicos de melhor qualidade. Milhões de brasileiros, incluindo os da classe média emergente, compraram seu primeiro carro e começaram  a viajar de avião. Agora, o transporte público tem que ser eficiente, para tornar a vida nas grandes cidades menos difícil.

As preocupações dos jovens não são apenas materiais. Eles querem mais acesso ao lazer e a atividades culturais. Acima de tudo, eles exigem instituições políticas mais limpas e mais transparentes, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico do Brasil, que,  recentemente, se mostraram incapazes de se reformar. Não se pode negar a legitimidade dessas demandas, mesmo que seja impossível alcançá-las rapidamente. É necessário, primeiro, encontrar fundos, fixar objetivos e estabelecer prazos.

Democracia não faz acordo com o silencio. Uma sociedade democrática está sempre em fluxo, a debater e definir prioridades e desafios, em constante busca de novas conquistas. Só numa democracia um índio poderia ser eleito presidente da Bolívia, um afro-americano ser eleito presidente dos Estados Unidos. Só numa democracia, pela primeira vez, um metalúrgico e, em seguida, uma mulher poderiam ser eleitos presidente do Brasil.

A História mostra que, quando os partidos políticos são silenciados e as soluções são impostas  pela força, os resultados são desastrosos: guerras,  ditaduras e a perseguição das minorias. Sem partidos políticos não pode haver nenhuma democracia verdadeira. Mas as pessoas não desejam simplesmente votar a cada quatro anos. Elas querem interação diária com os governos locais e nacionais, e participar da definição de políticas públicas, oferecer opiniões sobre as decisões que as afetam no dia a dia.

Em resumo, elas querem ser ouvidas. Isso é um enorme desafio para os líderes políticos. Isso requer melhores formas de participação, através dos meios de comunicação social, no local de trabalho e nas universidades, para reforçar a interação com trabalhadores e  líderes comunitários, mas, também, com os chamados setores desorganizadas, cujos desejos e necessidades não devem ser menos respeitados porque não tem organização.

Diz-se, e com razão, que a sociedade entrou na era digital e a política permaneceu analógica. Se as instituições democráticas utilizassem as novas tecnologias de comunicação como instrumento de diálogo e não, apenas, para propaganda, elas passariam a respirar ar mais fresco. E com isso estariam mais em sintonia com toda a sociedade.

Mesmo o Partido dos Trabalhadores, que eu ajudei a fundar, e que tem contribuído para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa aprofundar a renovação. Precisa recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens paternalisticamente.

A boa notícia é que os jovens não são conformistas, apáticos ou indiferentes à vida pública. Mesmo aqueles que pensam odiar  a política estão começando a participar. Quando eu tinha a idade deles, eu nunca imaginei que iria me tornar um militante político. No entanto, criamos um partido político quando descobrimos que o Congresso Nacional praticamente não tinha representantes da classe trabalhadora. Através da política conseguimos restaurar a democracia, consolidar a estabilidade econômica e criar milhões de empregos.

Claramente ainda há muito a fazer. É uma boa notícia que os nossos os jovens queiram lutar para que a mudança social siga em um ritmo mais intenso.

A outra boa notícia é que o presidenta Dilma Rousseff propôs um plebiscito para promover  as reformas políticas tão necessárias. Ela também propôs um compromisso nacional para a Educação, a Saúde e o Transporte Público, em que o Governo Federal dará apoio financeiro e técnico substancial a Estados e Municípios.

Quando falo com jovens líderes no Brasil e em outros lugares eu gosto de dizer: mesmo se você perder a esperança em tudo e em todos, não dê as costas à Política. Participe! Se você não encontrar nos outros o político que você procura, você pode encontrá-lo ou encontrá-la em você mesmo.

Luis Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil e agora trabalha em iniciativas globais, no Instituto Lula.

(Tradução de Murilo Silva e Paulo Henrique Amorim)

7.06.2013

Analise de Conjutura

Governo reafirma intenção de fazer reforma política já para 2014:O governo da presidenta Dilma, através do ministro José Eduardo Cardoso e do vice presidente Miche Temer, reafirmaram ontem a intenção de realizar o plebiscito para a reforma política ainda este ano, com efeitos que passem a valer para as eleições do ano que vem. Para viabilizar tal proposta, o congresso precisaria aprovar leis que traduzissem os desejos populares expressos no plebiscito até o dia 05 de outro, sendo que o TSE pediu 70 dias para organizar o plebiscito, incluindo o prazo necessário para o debate das propostas e o esclarecimento acerca das questões.
Comentário: A realização do plebiscito ainda divide a base aliada no Congresso Nacional, que resiste a possibilidade de aprovação expressa de uma reforma política que não tenha sido elaborada pelo Congresso Nacional. A possibilidade de o plebiscito só valer para eleições após 2014 não é bem vista pelo Planalto, dado que contradiz a vontade expressa nas ruas de mudanças rápidas, particularmente a respeito das formas de organização política e partidária.
IPCA de junho desacelera, ficando abaixo das expectativas do mercado: A inflação calculada pelo IPCA no mês de junho subiu 0,26%, ante crescimento de 0,37% em maio, apontando uma desaceleração no período. O índice ficou abaixo da expectativa média do mercado (0,33%), mas foi superior ao verificado em junho de 2012, quando a inflação cresceu apenas 0,06%. Por este motivo, o acumulado de 12 meses do IPCA aumentou para 6,7%, passando em 0,2% o teto da meta de inflação para o ano-calendário de 2013. A desaceleração verificada no IPCA esta ligada a queda no preço dos alimentos no período, que desacelerou de 0,31% em maio para 0,04% em junho.
Comentário: A inflação no período recente vem arrefecendo dado a desaceleração no preço dos alimentos, assim como uma certa desaceleração no mercado de trabalho, que está se refletindo no crescimento de reajustes salariais menores do que a inflação. Esta queda na inflação pode perdurar, caso o crescimento econômico se confirme menor do que o esperado no início do ano (hoje em dia, já se espera que o crescimento em 2013 seja na casa de 2% a 2,5%) e o repasse inflacionário da desvalorização cambial não se transfira fortemente para os preços.
Mantega afirma que que corte de gastos será menor que R$ 15 bi: O ministro da fazenda Guido Mantega afirmou hoje que o corte de gastos federais que será anunciado em breve como parte da política de combate à inflação não deverá alcançar R$ 15 bilhões. Neste corte, serão preservados os investimentos públicos e os gastos sociais, sendo abatidos os gastos de custeio da máquina pública. Com este ajuste, espera-se cumprir integralmente a meta fiscal primária (já com os devidos abatimentos legais) de 2,3% do PIB ao final do ano.
Comentário: O esforço fiscal adicional que será anunciado em breve serve como uma resposta aos críticos da política econômica do governo, que está sendo sistematicamente acusado de “manipular” os resultados fiscais e ampliar os gastos públicos, promovendo novas pressões inflacionárias. Estas acusações são descabidas em um momento de crescimento baixo e diminuição da demanda privada, que contribui para o baixo crescimento. É fundamental que os novos cortes não atinjam os investimentos e, ao mesmo tempo que preservem as metas fiscais perseguidas pelo governo, permitam que o gasto público substitua a demanda privada quando necessário.

7.05.2013

Nota da Comissão Executiva Nacional do PT

 
A Comissão Executiva Nacional do PT, reunida em 4 de julho de 2013 em Brasília/DF, para avaliar a situação política nacional e o resultado das manifestações populares e da juventude que ainda estão em curso em todo o país.
SAÚDA
• o caráter progressista que se consolidou no rumo das manifestações em curso, com suas reivindicações políticas, econômicas e sociais profundamente identificadas com a trajetória e programa do Partido dos Trabalhadores e das forças que se uniram para governar o Brasil sob a condução da Presidenta Dilma
• a pronta disposição democrática da Presidenta Dilma, líder de uma das maiores democracias do planeta e a única, entre tantos Chefes de Estado que tiveram suas ruas tomadas por manifestantes populares e da juventude, a abrir o diálogo com estes e a responder de forma concreta aos seus justos clamores pelo aprofundamento das mudanças que o País vive nos últimos dez anos
• a iniciativa política do Governo de construir, com os movimentos sociais, o Congresso Nacional, o Poder Judiciário e as forças políticas democráticas uma agenda de alto nível sobre o presente e o futuro do Brasil, consubstanciada nos Pactos anunciados pela Presidenta Dilma e numa agenda legislativa há muito reclamada pela Nação
• a tramitação de importantes legislações constantes desta agenda nacional, entre elas a PEC do Trabalho Escravo, a destinação de recursos dos royalties do petróleo e do Fundo do Pré-Sal para a educação e a saúde, a criação do REITUP para baratear os custos das tarifas de transporte coletivo, entre outras, e a retirada de cena de projetos reclamados pela população, como a chamada "cura gay".
• a entrada em debate de importantes matérias como o Estatuto da Juventude, o PL 4.471 (autos de resistência) e a criminalização dos corruptores em projeto de lei apresentado pelo Presidente Lula, bem como a adoção de medidas que visam ressarcir os cofres públicos dos prejuízos por estes causados à sociedade, que esperamos sejam aprovados no curto prazo. O PT se posiciona ainda contra a PEC 215, que visa transferir do Executivo para o Legislativo a demarcação de terras indígenas.
• a construção de crescente unidade na esquerda política, partidária e social da necessidade urgente de aprovação de uma verdadeira Reforma Política com Participação Popular e de um Plebiscito Nacional sobre os eixos fundamentais dessa reforma, pela qual há anos o PT e os movimentos sociais lutam no Congresso Nacional.
MANIFESTA
• o compromisso com a agenda de reformas democráticas e populares que podem dar sustentação política, econômica e social às respostas que vêm sendo dadas aos justos reclamos da população no que diz respeito à qualidade dos serviços públicos e consolidação da inclusão social de amplas maiorias.
• entre estas, o compromisso com uma Reforma Tributária que busque nas grandes fortunas e rendas de uma minoria os recursos que permitam a diminuição da carga tributária sobre a produção, a renda e o trabalho das amplas maiorias do pais.
• a convicção de que os mecanismos constitucionais e legais existentes para uma Reforma Urbana podem e devem ser utilizados para que as atuais políticas públicas de moradia, saneamento básico e mobilidade urbana estejam integradas com a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida das nossas cidades
• o chamamento à imediata aprovação do marco civil da Internet pelo Congresso, garantindo os direitos de 80 milhões de internautas brasileiros e ampliando as potencialidades de toda comunicação em rede, tão utilizadas nas recentes manifestações em todo o país.
• a luta pela regulamentação dos dispositivos constitucionais que normatizam as comunicações do Brasil, tal como proposto pelo Fórum Nacional da Democratização da Comunicação, cujo abaixo-assinado assumimos em fevereiro.
• a defesa da imediata Reforma Política, com efeitos imediatos já para as eleições de 2014 e com resultados duradouros e estruturais definidos em uma Assembléia Constituinte Exclusiva sobre o tema da Reforma Política cuja convocação propomos seja submetida à consulta popular em Plebiscito.
ORIENTA
• as bancadas do PT na Câmara e no Senado a trabalharem pela coesão da base aliada da Presidenta Dilma no Congresso para a convocação no mais curto prazo do Plebiscito Nacional pela Reforma Política, priorizando entre os quesitos a serem incluídos na consulta popular os eixos de nosso Projeto de Lei de Iniciativa Popular: financiamento público exclusivo de campanhas; sistema proporcional com voto em lista partidária pré-ordenada e paridade de gênero; a ampliação da participação popular e dos mecanismos de democracia participativa já existentes; e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para a Reforma Política.
CONCLAMA
• a militância do PT a continuar colhendo assinaturas para o nosso projeto de iniciativa popular, ombro a ombro com outras iniciativas da sociedade civil que caminham no mesmo sentido (como a Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma Política, o MCCE, a OAB, a CNBB, entre outras valorosas instituições), intensificando o ritmo da coleta de assinaturas para que incidam positivamente no debate no Congresso Nacional sobre o tema.
• a militância petista nos movimentos sociais a que assumam decididamente a participação nas manifestações de rua em todo o país, em particular no Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações convocada por ampla coalizão de centrais sindicais e movimentos populares para o próximo dia 11 de julho, em defesa da pauta da classe trabalhadora para o país e da Reforma Política com Participação Popular.
• os partidos democráticos e populares, centrais sindicais e movimentos sociais que vêm se articulando de forma importante ao longo das últimas semanas para colocar na rua a pauta das transformações sociais do país que sempre nos unificou a debater a reconstituição do Fórum Nacional de Lutas como espaço de diálogo permanente, construção de unidade e articulação de lutas sociais e institucionais.
• os filiados e filiadas ao Partido dos Trabalhadores em todo o Brasil para que intensifiquem os preparativos para um grande Processo de Eleições Diretas (PED) a ser realizado entre os meses de julho e novembro, com ampla mobilização e empenho no debate político dos temas de nosso V Congresso do PT, de modo a demonstrar a toda a sociedade brasileira que nossas bandeiras de democratização e participação popular em nosso projeto de Reforma podem e serão vividas nas relações internas do PT, construindo e fortalecendo nossa unidade de ação.
e CONVOCA
+ Reunião do Diretório Nacional do PT para o dia 20 de Julho.
Reforma Política com Participação Popular
Plebiscito Já
Eleições de 2014 regidas pelas novas regras da Reforma Política
Todo apoio ao Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações de 11 de Julho
Brasília, 04 de julho de 2013.
Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores

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7.02.2013

Pesquisas Datafolha; muita calma nessa hora


Recentes pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, sobre popularidade do governo federal e intenções de voto para 2014, assanham a direita e tiram o ar de setores da esquerda. Os números parecem dizer, a julgar por algumas manchetes e análises, que o país caminha para encerrar o ciclo de reformas iniciado em 2003. Mas recomenda-se cautela ao interpretar esses levantamentos, antes de bailar o carnaval ou vestir-se de luto.
Por Breno Altman*, no Brasil 247


O fato mais relevante é a queda de popularidade da presidente Dilma. O índice de eleitores que consideravam sua administração ótima ou boa cravou os 65% no final de março, baixou para 57% no início de junho e despencou para 30% após a escalada de protestos. O número de seus eleitores potenciais acompanhou a curva: 58%, 51% e 30%.

A má notícia para petistas e aliados é inegável, pois saltou de banda praticamente metade do apoio e eleitorado da titular do Planalto. Cometerá sério erro, no entanto, quem enxergar isoladamente esse dado estatístico. Não apenas pela natureza fotográfica e momentânea de pesquisas, mas também por conta de outros registros disponíveis nas mesmas enquetes.

O primeiro deles é que o bloco de confiança, agregando a classificação regular aos julgamentos francamente positivos, deteriorou-se em ritmo mais baixo. Situava-se em 93% no pico, manteve-se no início de junho (90%) e caiu agora para 73%. Enquanto o grupo superior perdeu 53,85% de seus adeptos em três meses, a faixa que abarca também o nível intermediário foi reduzida em 21,50%.

Ou seja, apesar do tsunami político, a reversão nas avaliações não levou a uma maioria antagônica ao governo, ainda que haja riscos reais e imediatos. Os descolamentos atuais estão situados em um campo em disputa, no qual o governo e o PT podem encontrar audiência e recuperar terreno.

Esta mesma tendência se aplica à intenção de votos em Dilma. No cenário mais provável para 2014, com quatro candidatos (a atual presidente, Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos), a petista perdeu 21 pontos em relação à última pesquisa, mas 12 desses pontos migraram para o grupo de votos indefinidos, brancos ou nulos. Os candidatos de oposição cresceram, é fato, mas absorvendo menos da metade do que Dilma perdeu.

Trata-se de ponto relevante que a chefe da Rede tenha sido a candidata mais beneficiada, crescendo de 16 para 23% — enquanto o representante tucano ganhou somente três pontos (de 14 para 17%) e o governador pernambucano praticamente patina na mesma posição (foi de 6 para 7%). Marina Silva, afinal, é desaguadouro natural e instável para eleitores desgostosos com o PT que não pretendem migrar para a direita.

Mesmo quando Joaquim Barbosa entra na parada, o quadro não muda de forma expressiva, ainda que promova relativa desidratação dos demais candidatos contra o oficialismo (Marina baixa a 19%, Aécio a 14% e Campos a 4%). A soma dos candidatos oposicionistas sobe de 47 para 53%, com o segmento de indefinidos, brancos e nulos descendo de 24 para 19%, enquanto Dilma fica praticamente na mesma, caindo de 30 para 29%.

Deve-se ressaltar que momentos de politização da sociedade alteram a lógica de alinhamento do eleitorado. Quando o cenário do país desenvolve-se sem solavancos, é comum haver certa simpatia administrativa até de quem não votou e sequer votaria no partido de plantão. Mas quando há clima de polarização, a tendência de confluência entre apoios e opção ideológica se afirma.

Os 30% de Dilma nas pesquisas representam o núcleo duro do eleitorado petista e de esquerda, contra outros tantos (simpáticos a Aécio e, em parte, a Marina ou Joaquim Barbosa) que são fiéis do conservadorismo, enquanto os setores oscilantes representam ao redor de 40% dos eleitores. Não houve, a julgar pelo Datafolha, significativo crescimento da direita, mas perda importante de gordura governista a favor da zona nebulosa na qual estão tanto votos indecisos, nulos e brancos quanto candidatos que exibem perfil alternativo aos partidos tradicionais.

O segundo tema de relevo está no desempenho do ex-presidente Lula caso fosse candidato em 2014. Alcança 45% das preferências, contra 43% de todos adversários somados (Marina faria 14%, Barbosa bateria em 13%, Aécio não ultrapassaria 12% e Campos estacionaria em 4%). Também recuam indecisos, nulos e brancos, para 13%. Apesar da queda de 10% em relação à última pesquisa, o desempenho do líder petista revela importantes reservas de força a favor da esquerda.

Esta performance também confirma que as características dos protestos no Brasil são bastante distintas de seus congêneres europeus ou árabes. A memória majoritária sobre os dez anos de governo progressista é positiva, especialmente entre os pobres da cidade e do campo, e profundamente identificada com o ex-presidente. O país viveu ciclo de melhoria paulatina da economia e das condições de vida e renda entre as camadas populares, que mantém sua lealdade ao projeto liderado pelo PT.

Os sucessos deste processo, associados a suas limitações, trouxeram novas contradições, e esse é um terceiro elemento central de análise. O desemprego é o principal problema nacional para apenas 4% dos entrevistados pelo Datafolha, por exemplo. Baixos salários sequer constam das inquietações principais. Tampouco inflação. Mas a oferta dos principais serviços públicos deixa 71% dos brasileiros insatisfeitos – 48% reclamam da saúde, 13% da educação e 10% da segurança, em respostas únicas e espontâneas.

Pode-se concluir que a ascensão socioeconômica retirou algumas dezenas de milhões da plataforma de reivindicações para a sobrevivência e os colocou no rumo de exigências por melhor qualidade de vida, fenômeno que rebate diretamente no desempenho do poder público. Há perda paulatina na confiança de que essas demandas possam ser atendidas por um sistema político que parece contaminado por interesses corporativos e privatistas.

O aumento no preço das tarifas de transporte público e o custo das obras destinadas à Copa, potencializados pela repressão policial nos estados, aparecem como gatilhos para a conversão desta insatisfação em mobilização, que abraça temas concretos e conflui como questionamento generalizado ao arcabouço institucional construído pela transição conservadora à democracia.

O PT acumulou forças fora deste sistema, como seu crítico mais duro e contumaz, ainda que tenha sempre operado pelas regras constitucionalmente vigentes. Ao conquistar o governo, em minoria parlamentar, seus dirigentes consideraram que não havia forças para mudar essas instituições e conduziram reformas em seu âmbito. A explosão da crise de junho, nessas circunstâncias, atinge o partido e o conjunto da esquerda como integrantes de um edifício político corroído por cupins famintos, na percepção das ruas.

Por fim, um quarto componente das pesquisas convalida o tipo que crise que o país atravessa: 68% dos entrevistados apoiam o plebiscito para reforma política e 73% seriam favoráveis à convocação de uma constituinte (o que eventualmente revela recuo precipitado do governo sobre esse tema). Ao contrário do que manifestam correntes de direita, dentro e fora das legendas oposicionistas, a maioria dos eleitores aplaude uma solução política de grande amplitude para os dilemas atuais.

Esta inclinação do eleitorado talvez traga a chave de compreensão para a esquerda refazer sua estratégia e recuperar o terreno perdido. As ruas querem mais reformas e maior velocidade nas mudanças. Parte da cidadania, aquela de orientação progressista, condena o PT e seu governo por terem ficado parecidos demais, próximos demais, com os grupos econômicos e políticos que sempre combateram.

A resposta às mobilizações e aos resultados das pesquisas não parece ser uma questão técnica, de gestão, mas um rumo político. Uma nova agenda que aprofunde o processo iniciado em 2003, a começar pela radicalização da democracia. O confronto de programas, o reforço da identidade de esquerda e a defesa abnegada dos interesses populares contra a plutocracia podem ser o melhor caminho de reencontro com a base social momentaneamente perdida.

Uma visão tradicionalista, de que os 40% perambulando entre o PT e a oposição de direita constituem um "centro", a ser disputado com maior eficácia administrativa (ainda que necessária) e mais moderação tanto na política quanto na economia, tem boas chances de ser desastroso tiro no pé.

* Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samue

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=217544&id_secao=1

 

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