5.13.2018

Segundo domingo de maio, dia 13, uma data marcante. Dias das mães e da abolição da escravatura.


Mãe Ana, parteira de aproximadamente 300 crianças
Arte em terra ronca, exposta no Palacinho Palmas em
que uma mãe negra expressa toda sua agonia.

      Sendo domingo, 13 de maio de 2018, uma data marcante no calendário nacional, dias das MÃES que coincide com uma data simbólica para a comunidade negra, que marca os 130 anos da edição da “ABOLIÇÃO” a partir da Lei Áurea composta por um único artigo, começou um longo período de martírio dos afrodescendentes, que já permeia o século XXI. Então, resolvi escrever esse artigo traçando um paralelo reflexivo entre a história da Parteira “MÃE ANA”, chamada de mãe por muitos, trajetória que confunde com a história da população negra no município.
 Com a famosa “abolição” e sem nenhuma política de reparação aos danos físicos (em todos os sentidos) e simbólicos causados a esse povo, aos poucos eles foram sendo empurrados para as periferias das cidades e as margens da sociedade, dano inicio as favelas e aos grupos de “marginais” que explicaria toda a mazela social dos novos tempos. Vendidos como animais, homens e mulheres eram separados de seus irmãos, esposas, esposos e filhos, além disso, sem terras para produzir seu próprio sustento, sem acesso ao ensino publico gratuito, excluídos dos serviços de assistência básica como saúde, moradia e saneamento básico, o negro foi engolido por um processo de marginalização sem volta, que contribui ainda mais, para o que o geógrafo Milton Santo chama de apartheid a brasileira. Por esses e outros motivos se faz necessário outro tipo de abolição, com base em processos históricos de reparação e afirmação, com menos retórica.
Aqui em Conceição do Tocantins que tem sua fundação vinculado ao garimpo, com uma população de aproximadamente composta por 80% de afrodescendentes, mães com “MÃE ANA” suas irmãs Clementina Golçalves, conhecida como Tia Quelé e Cândida Gonçalves, conhecida como Candoxa, entre muitas outras mães, todas descendentes de escravos,  sustentaram sues filhos a partir do garimpo do ouro manual, com instrumento de madeira chamado de “batei”.
   Nenhuma sociedade do mundo deixou uma etnia quase 400 anos escravizada, com exceção do Brasil. Ainda hoje, essa atrocidade do passado nacional reflete na vida contemporânea da sociedade brasileira, que não consegue se livrar dessa pratica perversa que incide no destino, sobretudo das mulheres que são mães. Apesar de ser um marco legal e representar uma data importante para se reforçar a luta pelos direitos da população, muitas pessoas e entidades ligadas a essa causa não comemoram a passagem, por considerar que há muitos desafios e que estamos longe do ideal.
      No Brasil, onde os negros representam quase a metade da população, chegando a 80 milhões de pessoas, o racismo ainda é um tema delicado. As novas gerações já têm uma visão mais aberta em relação ao tema, às pessoas vêm mudando seu comportamento, mas o que falta evoluir são as ações governamentais, para promover a cultura negra em todos os seus aspectos e as políticas de auto-afirmação e reparação de direitos negados.  
Ana Gonçalves de Cirqueira, mais conhecida como “Mãe Ana”, parteira, nascida em 12 de abril de 1928 e falecida em 04 de outubro de 2016, foi um exemplo de vida para os seus familiares, para as atuais e futuras gerações, sua memória sempre será um orgulho para o município de Conceição do Tocantins. 
Difícil expressar toda minha gratidão e reconhecimento àquele que me trouxe a luz do mundo por suas mãos. Pois bem, sobre “Mãe Ana”, quero trazer sempre viva sua memória, por isso, vou fazer um breve relato sobre sua historia, para que os interessados possam aprofundar sua curiosidade e guardem para sempre esse exemplo de vida e dedicação ao próximo. 
Ela foi PARTEIRA, num tempo em que as condições de saúde eram precárias, ou seja, nem mesmo existia acesso ao atendimento básico, os partos eram feitos por parteiras, que colocavam seu conhecimento popular e suas experiências a serviços das gestantes, esse trabalho ia muito além do parto, faziam um verdadeiro acompanhamento, uma espécie de pré-natal, haja vista, que ainda não dispunha de equipamentos médicos em localidades como o norte de Goiás.
Eram muitas as mulheres que realizavam esse trabalho, pois no caso de Ana Gonçalves, essa pessoa abençoada, que trouxe muitas crianças para a vida, tem uma peculiaridade, segundo ela, foram aproximadamente 300 partos, pessoas que viram pela primeira vez a luz de nosso tempo por suas mãos.. Naquelas circunstâncias em que muitas mães e crianças morriam no parto, em função da ausência de um exame mais detalhado para verificar as condições e posição do bebê, ela não perdeu uma só vida durante o trabalho de parto. Entre as diversas pessoas veio ao mundo graças a esse dom, estão professores, enfermeiras, personalidades diversas no município, inclusive este que escreve esta matéria.
PORTANTO, APÓS ABRAÇAR MINHA MÃE, QUERO PARABENIZAR TODAS AS MÃES.

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